quinta-feira, 29 de setembro de 2011

El desprecio de Obama y el silencio de los árabes


Agencia de Noticias de Ahlul Bait (ABNA) — Los israelíes están muy satisfechos y afirman que nunca hubo un presidente estadounidense tan “sionista” (Yediot); que su discurso merecía “una medalla de honor” (Netanyahu); que “éste es el mejor discurso que pronunció "(Liebermann); “como si hubiera sido enviado por fax desde la oficina de Netanyahu ... adoptó la narrativa de Israel al pie de la letra, la de un pueblo amenazado por sus vecinos, que soportó el sufrimiento durante miles de años y el Holocausto” (Yediot también); que “Obama dijo lo que los israelíes querían oír” (Jerusalem Post); que Obama es ahora “el embajador de Israel ante las Naciones Unidas” (Ron Dermer, asesor de Netanyahu); que “les dijo a los palestinos de que su mano está extendida a Israel y no a ellos.”

Y por si fuera poco, por parte del lobby sionista estadounidense se produjo la entronización del presidente estadounidense, hecha a través del periódico New York Magazine, que publicó una foto de Obama con una kipa y el titular “Obama, el primer presidente judío”.

Por el lado palestino se dijeron, entre otras cosas, que “éste es el peor discurso estadounidense sobre el conflicto árabe-israelí” (Zakaria Al Aga, un dirigente de Fatah); que “suscita asco e ira” (editorial de Al Ayyam); que “EEUU es la cabeza de serpiente” (lema de los manifestantes en Ramallah); que “42 vetos de EEUU en la ONU han permitido a Israel continuar imponiendo el apartheid en la región” (Ministerio de Información Palestino) etc,

En la prensa, el diario libanés As Safir calificó el discurso de la siguiente manera “el más hipócrita e insidioso ... el más conciliador con Israel en la historia del oportunista Obama ... Obama es un soldado del ejército israelí.”

En el periódico Al Hayat, el énfasis se pone muy suavemente en “la decepción árabe, que es poco decir frente a las parciales posturas estadounidenses en favor de Israel. EEUU debe ser consciente de que existe un vínculo entre la causa palestina y la dignidad árabe”.

Otro artículo de periódico pro saudí habla del “daño” que supone para las relaciones de EEUU con los árabes la amenaza de Obama de utilizar el veto y de la “humillación” que para los árabes que supone su apoyo a la posición israelí.

Pero a nivel oficial, hubo un silencio mortal. Ninguno de los presidentes, reyes, emires, ministros de Exteriores o embajadores presentes en el foro internacional o en otra parte dijeron una palabra sobre el discurso de Obama.

Sólo la Liga Árabe habló, y para lo que dijo habría hecho mejor en callarse.

La Liga se contentó con la mera repetición de sus posiciones obsoletas e impotentes. “La posición de los EEUU es injusta, alienta el extremismo israelí, apoya al verdugo en contra de la víctima, hace que Washington pierda su credibilidad y refuerza el extremismo en la región”, dijo su vicepresidente, Mohammad Sobhi. “Este discurso nos ha sorprendido”.

Así, después de 63 años de apoyo incondicional de EEUU a Israel, de identificación entre la política exterior estadounidense y la política interna israelí, de generosidad militar y financiera sin límites, de apoyo a las masacres israelíes, de colaboración científica, económica y de inteligencia entre estadounidenses e israelíes, etc ... los árabes se permiten estar sorprendidos y decepcionados. Los datos más recientes no eran más alentadores y nada permitía ver una postura diferente de parte del presidente estadounidense.

Tras su promesa de un Estado palestino y la puesta en marcha de las negociaciones, Obama no hizo nada para impedir que los israelíes continuaran construyendo sus asentamientos en Cisjordania y Jerusalén Este (Al Quds), es decir, las regiones que deberían ser, según la ONU, parte del Estado palestino. Esto demostró que su promesa no era más que palabras vacías.

La postura estadounidense real quedó expresada con franqueza en los últimos tiempos por medio de amenazas sobre la imposición de veto y las presiones a los palestinos para que regresaran a las negociaciones.

Más que nunca, el desprecio de Obama golpea a los aliados árabes de los norteamericanos por haber confiado simplemente en sus promesas. Por el contrario, los que nunca creyeron a la administración estadounidense han visto sus sospechas confirmadas.

“El confiar en los norteamericanos nos lleva al fracaso,” señaló un portavoz de Hamas. Durante 63 años, el campo de la resistencia no cesa de repetirlo ... las experiencias no cesan de confirmarlo ... y los regímenes árabes no cesan de sorprenderse”.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Palestina, ok. Mas Israel risca o limite, em Jerusalém



Robert Fisk, The Independent

Carregam com elegância as próprias feridas, os prédios da velha “linha verde”. Esqueçam os hotéis da nova Jerusalém, do outro lado da estrada, a linha de trem urbano de alta tecnologia, última moda, que brilha trilhos abaixo; só considere os buracos de balas nas paredes da esquerda, os estilhaços ainda encravados na fachada preservada do que foi um dia um bunker do exército de Israel, e é hoje a pequena galeria de arte de Raphie Etgar.

Ainda se pode caminhar entre os abrigos enferrujados, do outro lado da estrada. A cem metros dali ficava a Legião Árabe. A cem metros daqui, era a fronteira da Jordânia.

Essa é a “linha” [ing. border] de 1967 para trás da qual Mahmoud Abbas insiste que os israelenses devem retroceder, a “fronteira” [ing. frontier] que Bibi Netanyahu considera “vulnerável” demais para voltar a ela, em seja qual for o tratado de paz. Deixem que algum exército volte ao outro lado da estrada, e Jerusalém estará outra vez dividida e não será a “capital eterna unificada” de Israel. Deixem que os israelenses mantenham a anexação ilegal da mesma terra, e Jerusalém Leste jamais será a “capital” da Palestina. As aspas são indispensáveis, como em “paz”.

A arte que se vê no “Museu da Junção” [ing. Museum of the Seam[1]] – “junção” é uma espécie de palavra substituta de “linha” (que Israel não reconhecerá), mais ou menos como “assentamento” [orig. settlement] é substituta necessária de “colônia” [ing. colony]” – trata de guerra e paz, de Bagdá e do 11/9, de suicidas-bombas, uma assustadora e altamente efetiva colagem de braços e pernas, plástica e claramente amputados, até um rifle AK-47, e uma fábrica Chaplinesca, à Tempos Modernos, de engrenagens de caligrafia islâmica [orig. and a Charlie Chaplin factory of cogwheels of Islamic calligraphy (?)].

De certo modo, nem surpreende encontrar o diretor de arte e curador chefe empoleirado no telhado, pequeno, de óculos de armações grossas e respiração pesada, enquanto fala sem parar sobre os temas que lhe parecem mais caros ao coração: arte, oportunidades perdidas, esperança e desespero potencial, tudo misturado com alguma obstinação de criança teimosa. Raphie Etgar foi comandante de tanque, combateu em duas guerras – em 1967 no Sinai, em 1973 no Golan – e na sangrenta batalha de Karameh (da qual quanto menos se falar, melhor) e “vi a morte de perto e perdi alguns amigos”.

Mas chega de falar de guerra e paz. “O fato de nosso museu estar localizado sobre a ‘junção da linha verde’ [orig. ‘green line seam’] é significativo, claro, mas é mais uma ‘junção’ conceitual. Não estamos instalados aqui por acaso, mas queremos transmitir uma mensagem. Preferimos manter a ‘junção’ em contexto mais amplo. Na exposição, lidamos com o choque de civilizações – gostaria que os visitantes vissem isso no contexto de Oriente e Ocidente.”

Não tenho muita certeza de que a linha de 1967, logo à frente da janela às costas de Raphie Etgar, contenha algum tipo de lição sobre o mundo. A Europa não está em guerra para apossar-se de Londres ou Paris só para si e para mais ninguém. E Israel, com certeza, quer Jerusalém só para si. Mas o problema é que o ex-comandante de tanque crê que nós europeus partilhamos Londres e Paris com nossos imigrantes muçulmanos sem, por isso, nos sentirmos obrigados a entregar-lhes nossas capitais.

Difícil definir o homem. É de esquerda, com certeza. É homem de princípios morais, com certeza. Lê o Haaretz, parece-me. Absolutamente não nutre nenhuma espécie de amor pelo primeiro-ministro de Israel, depois do que disse em New York sobre algum estado para os palestinos. “Estava frente à televisão e tentei ouvir um pouco menos ‘de cima para baixo’ o que diziam os dois líderes. Netanyahu saiu-se melhor. É melhor ator. Sabe dar seu show e, se não souber que ele está sempre jogando o mesmo jogo, você talvez se sinta tentado a acreditar no que ele diz. É o melhor acrobata em todo o Oriente Médio.”

“Depois, veio o presidente palestino, que acabou com qualquer esperança que eu ainda tivesse de que ele abriria a porta e não repetiria as acusações de sempre. Tínhamos uma chance, as pessoas poderiam sentar e tentar encontrar algo de novo. Mas foi só repetição do mesmo velho jogo, Netanyahu com seus contorcionismos e aquela voz de quem não diz a verdade. Acredito mais numa peça de Shakespeare, do que nessas pregações.”

Perguntei que personagem shakespeareano ele entregaria a Netanyahu. Ele disse “Brutus”, eu sugeri o Rei Lear; pensei, mas não disse, que muitos chefes do partido Likud tratam os palestinos como Calibãs. “Acho que o cansaço, que é muito, por aqui, acabou com a esperança das pessoas” – diz Etgar. “E aí vem a força, em vez da esperança.”

A ideia dele – tanto quanto consigo sintetizá-la – é que Israel deve preparar-se para partilhar sua terra enquanto está mais forte, em vez de adiar para quando já não tiver tanta “força”. E há “regras para negociar” – é preciso tratar com respeito os outros povos.

Etgar, então, permitiria que os palestinos tivessem sua capital em Jerusalém Leste, e Israel, na parte oeste da cidade? Dessa vez, nenhuma hesitação. “Se eu estivesse no poder”, diz ele de repente, “eu não dividiria – eu, não. Acho que, aí, os palestinos tocam num ponto muito, muito sensível.”

“Devem conseguir a ‘Palestina’, como país, como lugar para viver. Deem a eles a Cisjordânia – mas não esqueçam coisas muito sensíveis e básicas e significativas para a nação judaica. Eles devem reconhecer a identidade judaica dessa terra [Israel]. Acho que, se se tratasse de Ramallah, não deixariam por menos”.

Percebo que, em algum ponto da conversa, nos afundamos num precipício. Etgar fala de partilhar “um sentido de direitos humanos”, mas em Jerusalém há muitas “pedras que sangram”. Palestinos e árabes têm de aceitar um “quarteirão” muçulmano-árabe na parte leste de Jerusalém. “Há muitas cidades com ‘quarteirões’. Mas vir e declarar que ‘aqui será a capital da Palestina’?! A história da minha própria família exige. Ninguém conseguirá arrancar isso dos ossos de todos os que estão enterrados aqui.”

Subo até a janela de vigia, no telhado, de onde vejo o Monte Scopus e o Monte das Oliveiras. É possível que, algum dia, tenha parecido boa ideia voltar para a “linha verde”, Raphie Etgar dissera antes de eu sair. “Mas o tempo mudou as coisas”.

Ah, a história – sempre culpada, sempre estendida como um tapete sobre Jerusalém. Na saída, tentei fechar a grade do poço da escada. Não pude. Estava fundida à parede, congelada no tempo, desde 1967.


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[1] Na página do museu, em http://www.coexistence.art.museum/Coex/Index.asp lê-se Seam - Coexistence. Todas essas denominações são tão traduzíveis quanto intraduzíveis. Traduzir seam por “coexistência” é traduzir para o idioma universal da ocupação israelense da Palestina, que é uma construção de propaganda. Seria como ‘traduzir’ “Coca-Cola” por “Isso é que é”, ou “McDonald” por “Amo muito tudo isso”, como traduzem-se os spots de publicidade, e pretender que seria tradução para o português do Brasil [NTs].

Tradução: Vila Vudu

terça-feira, 27 de setembro de 2011

A direita israelense se arma


Governo e forças reacionárias de Israel aumentam o tom contra manifestações pelo Estado palestino e sinalizam com violência e repressão

Baby Siqueira Abrão
de Ramallah (Palestina)


Os relatórios dos serviços de inteligência israelense afirmavam, no início de agosto, que as manifestações em Gaza e na Cisjordânia programadas para setembro, quando a ONU vota o reconhecimento do Estado da Palestina, seriam pacíficas, realizadas longe das colônias judaicas e dos checkpoints.
Um relatório parlamentar também divulgado no início de agosto, baseado nos informes das agências de inteligência israelenses, previu uma baixa possibilidade de erupção de movimentos violentos, considerados pelos palestinos “contraprodutivos” à sua causa.
Mais tarde, alguns oficiais das forças armadas, conhecidas como IDF, vieram a público e mudaram o discurso. Afirmaram que, uma vez aprovado o Estado, nas linhas anteriores a junho de 1967, e com Jerusalém oriental como capital, hordas de palestinos marchariam rumo às colônias para recuperar as terras que lhes pertencem. Detalhe: muitos desses oficiais são colonos e não escondem que gostariam de atacar palestinos.
Em 7 de agosto, o ministro das Relações Exteriores, Avigdor Lieberman, foi mais enfático. No Knesset – o parlamento israelense –, cercado por repórteres, ele anunciou um setembro “violento e sangrento, numa escala nunca vista”. A mídia abriu espaço para declarações dramáticas: “Quanto mais a Autoridade Palestina fala que só vai operar no campo democrático, mais eu vejo preparações para violência e derramamento de sangue”. Sem oferecer uma única evidência de suas afirmações, Lieberman pediu que o governo sionista cortasse relações com a Autoridade Nacional Palestina (ANP).

Violência contra palestinos

Coube ao porta-voz do ministro, Tizachi Moche, explicar que ele tirara essa conclusão de informes oficiais e de declarações de “autoridades palestinas”. A única declaração, porém, foi a que Hassan Youssef, líder do Hamas na Cisjordânia, deu ao Canal 2 de Israel, também em 7 de agosto.
Indagado sobre se as manifestações de setembro poderiam vir a se tornar violentas, ele respondeu que o povo palestino poderia “explodir a qualquer momento”, dado seu alto grau de frustração. Youssef saiu da prisão, onde passou seis anos, uma semana antes de dar a entrevista
ao Canal 2. Nesse tempo, os protestos não violentos espalharam-se por todas as vilas palestinas, firmando-se como instrumento da luta.
“Em setembro, vamos requerer à comunidade internacional, na ONU, que nos ajude a pôr um fim à ocupação israelense. Sempre agimos de acordo com a lei. Ilegal é a ocupação, não as tentativas de acabar com ela”, reagiu Ghassan Khatib, porta-voz da ANP. “Israel está tentando colocar combustível num falso cenário do que acontecerá em setembro”, acrescentou.
Embora as palavras de Lieberman, líder e fundador do partido de extrema direita Yisrael Beiteinu (Israel é nossa casa), parecessem fora de foco à época, hoje começam a fazer sentido. As ações violentas dos colonos contra os palestinos aumentaram muito desde agosto.
A queima de plantações e oliveiras e os ataques a pastores e rebanhos tornaram-se comuns. A invasão de terras palestinas, a perseguição a moradores e a ativistas internacionais, o ateamento de fogo a mesquitas, o apedrejamento de crianças e tiros de metralhadoras nos campos são práticas intimidatórias constantes. Sem contar o novo bombardeio a Gaza, crime ainda mais grave por contar com armas químicas que usam a população local como cobaia.

Ataques israelenses

De acordo com um relatório da International Solidarity Foundation for Human Rights [Fundação Internacional de Solidariedade por Direitos Humanos], em agosto 30 pessoas morreram e 400 foram presas durante as operações israelenses na Palestina. Entre os prisioneiros, 44 crianças, três jornalistas e três parlamentares. Além de Gaza, as regiões que mais sofreram foram Hebron, Belém, Silwan (distrito de Jerusalém), Tulkarem, Salfit, Ramallah e Al-Bireh.
Outro relatório, divulgado em 12 de setembro pela organização de direitos humanos israelense B’tselem, mostra que o IDF não respeita o “direito básico” de protesto dos palestinos. As reações às manifestações pacíficas sempre apresentam “uso excessivo de armas de controle de multidão”, com cânisters de gás atirados diretamente nos manifestantes, de acordo com o documento. A reportagem do Brasil de Fato testemunha tais fatos todas as sextas-feiras, quando ocorrem as passeatas.
Além disso, veio à tona há poucas semanas a notícia de que há cerca de sete meses o IDF vem treinando e armando os colonos com bombas sonoras e de gás, cânisters e balas de metal revestido com borracha. Essa parafernália soma-se às metralhadoras, carregadas de um lado para outro pelos colonos, e aos cães de guarda treinados para o ataque, cortesia do governo sionista.

Críticas às Forças Armadas

Na quarta-feira, 7 de setembro, uma reunião com membros da extrema-direita israelense, líderes dos colonos e parlamentares começou a ser preparada para “possíveis confrontações” caso o Estado palestino seja reconhecido pela ONU nas fronteiras pré-1967. Os colonos sabem que mais cedo ou mais tarde terão de entregar as terras que ocupam, mas prometem resistir.
No encontro, não faltaram críticas duras à cúpula do IDF, acusado pelo parlamentar Zeev Elkin, do partido Likud, de ter se transformado no “maior lobista da ANP, adotando o conceito de dois Estados”. A crítica à solução de dois Estados é comum entre a direita israelense, que não leva a sério a partilha decidida pela ONU em 1947, estabelecendo a criação de dois Estados, Palestina e Israel.
Para eles, a Palestina inteira, partes do Líbano, Síria, Jordânia e Iraque pertencem a Israel em consequência de um “direito histórico”. Este é contestado por Keith W. Whitelam, professor e diretor do departamento de estudos religiosos da Universidade de Stirling, no livro The Invention of Ancient Israel; the Silencing of Palestinian History [A invenção do Israel antigo; silenciando a história palestina].
A crítica de Elkin volta-se ao fato de o IDF ter “preferido” ceder às forças de segurança da ANP a responsabilidade de cuidar dos incidentes envolvendo palestinos. Essa responsabilidade, no entanto, foi negociada nos acordos de Oslo, segundo os quais a ANP deve cuidar da segurança das áreas A, que correspondem às cidades – onde se darão as manifestações. As zonas B, entre as cidades e as vilas, estão sob os cuidados de palestinos e israelenses; as áreas C, próximas ao muro do apartheid, são policiadas pelos israelenses. O IDF simplesmente cumpre os acordos.

Direito de matar

Para resolver o problema, Yaakov Katz, da União Nacional, aliança dos partidos nacionalistas de Israel, propôs que os colonos organizem marchas em pontos estratégicos da Palestina para se encontrar com as passeatas que, imagina a direita sionista, os palestinos farão em direção às colônias. Segundo Katz, desse modo, o IDF será obrigado a agir, a fim de impedir que os colonos entrem nas cidades.
Yoni Youssef, porta-voz dos colonos de Sheik Jarrah, em Jerusalém oriental, foi mais longe: evocou a Lei Dromi, que permite a proprietários matar aqueles que entram em suas casas. Para ele, assim seria possível atirar nos palestinos que tentassem se aproximar das residências judaicas.
O problema é que, em Sheik Jarrah, colônias israelenses e moradias palestinas ficam muito próximas, às vezes frente a frente. O temor dos palestinos é que os colonos possam assassinar pessoas que simplesmente tenham saído às ruas e depois alegar que elas se dirigiam às suas casas.
Nisso, podem ser ajudados pelos voluntários convocados por La Ligue de Defense Juive (A Liga de Defesa Judaica, LDJ), sediada na França, que de 19 a 25 de setembro prometem defender seus “irmãos” da Cisjordânia – isto é, os colonos – diante das “agressões dos ocupantes palestinos e, portanto, reforçar os dispositivos de segurança das vilas judaicas de Judeia e Samaria”.
Para a organização, portanto, os “ocupantes” são os palestinos, não os colonos, e a Cisjordânia é chamada de “Judeia e Samaria”, nomes bíblicos onde supostamente viveram judeus. A viagem é reservada “aos militantes com experiência militar”.
O que os representantes da extrema-direita não sabem é que quem vai cuidar da segurança durante as manifestações não é o IDF. É a polícia. Em entrevista ao Brasil de Fato, a porta-voz das forças armadas Avital Leibovitch afirmou que o exército irá apenas “observar” as manifestações pacíficas. “Se as manifestações forem mesmo pacíficas, o IDF não tem por que interferir”, disse.

“Carta branca”

Caso os colonos entrem nas vilas para atacá-las ou decidam marchar para as cidades, é a polícia israelense que irá detê-los. E, segundo Avital, terá carta branca para agir a fim de evitar excessos. Além disso, esquadrões de alerta compostos por reservistas estarão nas áreas mais sensíveis, “procurando impedir atritos”. O IDF só entrará em cena se as coisas saírem do controle, declarou a porta-voz. “Não queremos derramamento de sangue. Aprendemos com a Nakba. Usaremos apenas armas não letais, como o caminhão skank [gambá] e o gás lacrimogêneo”, afirmou ela, garantindo que a água fétida jogada nos manifestantes pelo skank não contém elementos químicos: “São substâncias orgânicas”.
E quanto às “linhas vermelhas”, que marcam até onde os palestinos podem ir sem levar tiros dos colonos? “Ah, eles sabem muito bem onde ficam essas linhas”, respondeu Avital. “Mantemos conversas regulares com eles”, completou. Ao checar a informação com líderes populares, o Brasil de Fato descobriu que eles nunca ouviram falar nessas linhas. Provavelmente, só as autoridades palestinas as conhecem.
Em reunião com os coordenadores da campanha “Palestina: Estado 194”, que já acontece em todo o país, Mahmmoud Abbas, presidente da ANP, pediu que ninguém se aproximasse das colônias nem enfrentasse seus moradores.
Os palestinos tampouco descartam “trabalhos internos”, isto é, pessoas contratadas pela extrema direita-israelense para agir como provocadoras no interior das manifestações, dando início a reações sangrentas da parte de Israel.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Palestina - Carta do Presidente de Venezuela, Hugo Chávez, ao Secretario Geral das Nações Unidas



Sua Excelência
Ban Ki-Moon
Secretario Geral
Organização das Nações Unidas

Senhor Secretário Geral:

Distintos representantes dos povos de mundo:

Dirijo estas palavras á Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas, a este grande fórum onde estão representados todos os povos da terra, para ratificar, neste dia e neste cenário, o total apoio da Venezuela ao reconhecimento do Estado Palestino: ao direito da Palestina em converter-se em um país livre, soberano e independente; Trata-se de um ato de justiça histórico com um povo que leva em si, desde sempre, toda a dor e o sofrimento do mundo.

O grande filósofo francês Gilles Deleuze, em seu memorável escrito; A grandeza de Arafat, diz com acento da verdade: A causa palestina é antes de tudo o conjunto de injustiças que este povo tem padecido e continua padecendo. E também é, me atrevo a agregar, uma permanente e inquebrantável vontade de resistência que já está inscrita na memória heróica da condição humana. Vontade de resistência que nasce do mais profundo amor pela terra. Mahmud Daewish, voz infinita da Palestina possível, nos fala a partir do sentimento e da consciência deste amor: “Não necessitamos a recordação/porque em nós está o Monte Carmelo/ e em nossas pálpebras está a erva da Galiléia. Não digas: se corrêssemos até meu país como o rio!/Não o digas!/Porque estamos na carne de nosso país/ e ele está em nós”.

Contra quem sustenta falazmente que o ocorrido ao povo palestino não é um genocídio, o mesmo Deleuze sustenta com implacável lucidez: “Em todos os casos se trata de fazer como se o povo palestino não somente não pudesse existir, senão que jamais tenha existido. É como dizer, o grau zero de genocídio: decretar que um povo não existe, negar-lhe o direito á existência”.

A propósito, quanta razão tem o grande escritor espanhol Juan Goytisolo quando afirma contundentemente: “A promessa bíblica da terra da Judéia e Samaria às tribos de Israel não é um contrato de propriedade avaliado diante de um cartório que autoriza a expropriar de seu solo aqueles que nasceram e vivem nele. Por isso mesmo, a resolução do conflito do Oriente Médio passa, necessariamente, por fazer justiça ao povo palestino, este é o único caminho para conquistar a paz”.

Dói e indigna que aqueles que padeceram um dos piores genocídios da história se tenham convertido em verdugos do povo palestino: dói e indigna que a herança do Holocausto seja a Nakba. E indigna, a secas, que o sionismo siga fazendo uso da chantagem do anti-semitismo contra aqueles que se opõem a seus atropelos e a seus crimes. Israel tem instrumentalizado e instrumentaliza, descaradamente e com vileza, a memória das vítimas. E o faz para atuar, com total impunidade, contra a Palestina. Ademais, não é ocioso precisar que o anti-semitismo é uma miséria ocidental, européia, da qual participam os árabes. Não esqueçamos, ademais, que é o povo semita palestino aquele que padece a limpeza étnica praticada pelo estado colonialista israelense.

Quero que se me entenda: uma coisa é rechaçar o anti-semitismo, e outra muito diferente aceitar passivamente que a barbárie sionista lhe imponha um regime de apartheid ao povo palestino. Desde um ponto de vista ético, quem rechaça o primeiro tem que condenar ao segundo.

Uma digressão necessária: é francamente abusivo confundir sionismo com judaísmo; não poucas vozes intelectuais judaicas, como as de Albert Einstein e Erich Fromm, se encarregaram de nos recordar através do tempo. E, hoje por hoje, é cada vez mais numerosa a cidadania consciente que, no próprio Israel, se opõem abertamente ao sionismo e suas práticas terroristas e criminosas.

Há que dizê-lo com todas suas letras: o sionismo, como visão do mundo, é absolutamente racista. Estas palavras de Golda Meir, em seu aterrador cinismo, são prova incontestáveis: “Como vamos devolver os territórios ocupados? Não há ninguém a quem devolvê-los. Não há tal coisa chamada palestinos. Não é como se pensa que existia um povo chamado palestino, que se considera ele mesmo como palestino e que nós chegamos, os expulsamos e nos apropriamos de seu país. Eles não existiam”.

Necessário é fazer memória: desde o final do século XIX, o sionismo planejou o regresso do povo judeu à Palestina e a criação de um Estado nacional próprio. Este planejamento era funcional ao colonialismo francês e britânico, como o seria depois ao imperialismo yanqui. O ocidente alentou e apoiou, desde sempre, a ocupação sionista da Palestina pela via militar.

Leia-se e releia-se esse documento que se conhece historicamente como Declaração de Balfour do ano de 1917: o Governo britânico se arrogava a jurisdição de prometer aos judeus um lugar nacional na Palestina, desconhecendo deliberadamente a presença e a vontade de seus habitantes. Há de assinalar que na Terra Santa conviveram em paz, durante séculos, cristãos e muçulmanos, até que o sionismo começou a reivindicá-la como de sua inteira e exclusiva propriedade.

Recordemos que, desde a segunda década do século XX, o sionismo, aproveitando a ocupação colonial britânica da Palestina, começou a desenvolver seu projeto expansionista. Ao concluir a Segunda Guerra Mundial, se exacerbaria a tragédia do povo palestino, consumando-se a expulsão de seu território e, ao mesmo tempo, da história. Em 1947 a detestável e ilegal resolução 181 das Nações Unidas recomenda a divisão da Palestina em um Estado judeu, um Estado árabe e uma zona sob controle internacional (Jerusalém e Belém). Concedeu-se, observe-se que descaramento, 56% do território ao sionismo para a constituição de seu Estado, De fato, esta resolução violava o direito internacional e desconhecia flagrantemente a vontade das grandes maiorias árabes: o direito de autodeterminação dos povos se convertia em letra morta.

Desde 1948 até hoje o Estado sionista tem prosseguido com sua criminosa estratégia contra o povo palestino. Para isso tem contado sempre com um aliado incondicional: os Estados Unidos da América do Norte. E esta incondicionalidade de demonstra através de um fato bem concreto: é Israel quem orienta e fixa a política internacional estadunidense para o Meio Oriente. Com toda razão Edward Said, essa grande consciência palestina e universal, sustenta que qualquer acordo de paz que se construa sobre a aliança com os EEUU será uma aliança que confirme o poder do sionismo, mais que confrontá-lo.

Agora bem: contra o que Israel e os Estados Unidos pretendem fazer crer ao mundo, através das transnacionais da comunicação, o que aconteceu e segue acontecendo na Palestina, digamo-lo com Said, não é um conflito religioso: é um conflito político, de cunho colonial e imperialista; não é um conflito milenar senão contemporâneo; não é um conflito que nasceu no Oriente Médio, senão na Europa.

Qual era e qual segue sendo o miolo do conflito? Privilegia-se a discussão e consideração da segurança de Israel, e para nada a segurança da Palestina. Assim pode corroborar-se na história recente: basta recordar o novo episódio genocida desencadeado por Israel através da operação “Chumbo Fundido” em Gaza.

A segurança da Palestina não pode se reduzir ao simples reconhecimento de um limitado autogoverno e autocontrole policialesco em seus “encraves” da ribeira ocidental do Jordão e na Franja de Gaza, deixando por fora não só a criação do Estado Palestino, sobre as fronteiras anteriores a 1967 e com Jerusalém oriental como sua capital, os direitos de suas nações e sua autodeterminação como povo, senão, também, a compensação e conseqüente retorno à Pátria de 50% de sua população palestina que se encontra dispersa pelo mundo inteiro, tal e como o estabelece a resolução 194.

É incrível que um país (Israel) que deve sua existência a uma resolução da Assembléia Geral, possa ser tão desdenhoso das resoluções que emanam das Nações Unidas, denunciava o padre Miguel D`Escoto quando pedia o fim do massacre contra o povo de Gaza, aos finais de 2008 e princípios de 2009.

Senhor Secretário Geral e distintos representantes dos povos do mundo:

É impossível ignorar a crise das Nações Unidas. Diante desta mesma Assembléia Geral sustentamos, no ano de 2005, que o modelo de Nações Unidas se havia esgotado. O fato de que se tenha postergado o debate sobre a questão palestina, e que se esteja sabotando abertamente, é uma nova confirmação disso.

Há vários dias, Washington vem manifestando que vetará no Conselho de Segurança o que será a resolução majoritária da Assembléia Geral: o reconhecimento da Palestina como membro pleno da ONU. Junto às Nações irmãs que foram a Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América (ALBA), na Declaração de reconhecimento do Estado Palestino, temos deplorado, desde já, que tão justa aspiração possa ser bloqueada por esta via. Como sabemos, o império, neste e em outros casos, pretende impor um duplo standard no cenário mundial: é a dupla moral yanqui que violo o direito internacional na Líbia, porém permite que Israel faça o que lhe dá na gana, convertendo-se assim no principal cúmplice do genocídio palestino em mãos da barbárie sionista. Recordemos umas palavras de Said que colocam o dedo na ferida: “Devido aos interesses de Israel nos Estados Unidos, a política deste país em torno do Oriente Médio é, portanto, israelocêntrica.

Quero finalizar com a voz de Mahmud Darwish em seu memorável poema Sobre esta terra: “Sobre esta terra há algo que merece viver: sobre esta terra está a senhora de terra, a mãe dos começos, a mão dos finais. Se chamava Palestina. Continua chamando Palestina. Senhora: eu mereço, porque tu és minha dama, eu mereço viver”.

Seguirá chamando Palestina: A Palestina viverá e vencerá! Longa vida a Palestina livre, soberana e independente!

Hugo Chávez Frías
Presidente de la República Bolivariana de Venezuela

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

“Obama, tire as mãos da Síria”


As mortes que acontecem hoje na Síria são promovidas e patrocinadas por potências ocidentais imperialistas interessadas em ocupar a Síria, afirma Mouthi Ibrahim, presidente da Sociedade Beneficente Árabe Brasileira do Paraná

Para Moutih Ibrahim, sírio, presidente da Sociedade Beneficente Árabe Brasileira do Paraná, a imprensa ocidental é parcial e não vem divulgando a verdade sobre os fatos lamentáveis ocorridos na Síria: “Querem fazer na Síria o que fizeram no Iraque e na Líbia, derrubar um governo e colocar fantoches para defender os interesses criminosos dos imperialistas e sionistas”.
Moutih lembra que a Síria é uma potência econômica e militar na região, aliada ao Irã e à Rússia. “Foi graças à Síria que o Líbano não foi invadido e ocupado por Israel em 2006. A entidade sionista havia invadido o Líbano para ameaçar todos os povos e países da região, contando com apoio militar do imperialismo norte-americano. Naquele momento o povo árabe sírio se levantou em solidariedade aos seus irmãos libaneses e entrou na guerra, modificando o resultado previsto pelos imperialistas e sionistas, levando o Líbano à vitória. E após a guerra, a Síria continuou apoiando o Líbano, apesar das campanhas mentirosas da imprensa ocidental”, disse Moutih Ibrahim. E mais: “o povo sírio pagou um preço alto em vidas humanas e gastos militares, mas não permitimos que nossos irmãos libaneses fossem dominados e massacrados, como acontece com nossos irmãos palestinos”.
Sobre as manifestações na Síria, Moutih lembra que dezenas de mercenários estrangeiros foram presos e mortos na Síria pelas forças de segurança, revelando e comprovando que por trás dos levantes e atentados terroristas na Síria estão os governos de Israel, Arábia Saudita e Estados Unidos, os maiores interessados em criar guerras na região para impor suas ideologias reacionárias e capitalistas. Estão jogando muito dinheiro para tentar criar uma guerra civil na Síria. Estão enviando dezenas e dezenas de mercenários bem armados para fazer atos de sabotagem e assassinar policiais, militares e civis em geral”.
Finalizando sua entrevista, Moutih lembra que “a Síria é um país com tradição milenar, berço da cultura mundial, e seu povo jamais se renderá aos estrangeiros imperialistas e sionistas que pretendem dominar o Oriente Médio para impor a dominação israelense sionista na região. Não basta derramar diariamente o sangue palestino, os israelenses querem derramar sangue libanes e sírio, e neste sentido contam com apoio integral do presidente Obama. Vamos lembrar que apenas dois países no mundo apoiavam o governo racista na África do Sul - Israel e Estados Unidos -, e isso a imprensa procura esconder. Portanto, são nações governadas por criminosos da pior espécie, fantoches dos grandes banqueiros internacionais judeus sionistas”.