terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Yoani Sánchez: personagem e arma da guerra midiática contra Cuba



Nos últimos dias a blogosfera brasileira tem intensificado seu trabalho de desmascarar a blogueira cubana Yoani Sánchez, produto do governo estadunidense na campanha midiática internacional contra Cuba. Alguns exemplos são os blogs: O Pensador da Aldeia, blog de Jose Luiz Quadro de Magalhães, blog de Altamiro Borges,CMI Brasil, blog do Carlos Maia, dilmanarede, Associação Cultural José Martí eJornalismo B.

Reproduzo abaixo o texto tomado do Jornalismo B.
Yoani Sánchez: personagem e arma da guerra midiática contra Cuba

Com a viagem da presidenta Dilma Rousseff a Cuba, programada para a próxima semana, a trupe dos jornalões brasileiros não quis perder a oportunidade de pressioná-la. Uma das mais recorrentes críticas da mídia dominante ao governo de Lula se referiu à política externa. Ao contrário de todos os governantes anteriores, o petista manteve, de modo geral, um posicionamento independente, desagradando os setores da sociedade brasileira que sempre lucraram com um país subordinado aos interesses imperialistas (nas últimas décadas isso pode ser lido como EUA, mas não apenas isso) e que buscava estrangular os mais fracos.

A guinada da América Latina como um todo em direção a políticas externas de colaboração em detrimento da competição canibal entre os países historicamente explorados incomodou as elites e, é claro, seus representantes midiáticos. A pressão – e a sutil porém real mudança ideológica – já fizeram com que Dilma assumisse postura muito mais ofensiva do que Lula em relação ao Irã. Agora, estratégia de mídia semelhante é usada para afastar a presidenta do governo cubano. E uma peça vem sendo – e continuará a ser – fundamental nesse jogo: Yoani Sánchez.

A blogueira cubana é, há anos, estrela internacional da luta imperialista contra a Revolução Cubana. Multivencedora de premiações promovidas por jornais e organizações internacionais afinadas com o neoliberalismo, Yoani costuma reclamar muito do que chama de “falta de liberdade de expressão” em Cuba, mas mantém seu blog no ar sem problemas, assim como sua conta na rede social Twitter. Da mesma forma, costuma dar muitas entrevistas, por telefone, email, ou mesmo pessoalmente. Mesmo assim, se diz perseguida. O Generacion Y, blog mantido pela cubana, é traduzido em 18 idiomas, e não se conhece outro site no mundo com esse número de traduções. As fontes dessa força não são conhecidas, assim como não são conhecidas muitas questões em torno de Yoani. As premiações, por exemplo, ajudam a sustentar sua tranquila vida em Havana. Quais interesses representam, é uma questão que a grande mídia internacional não costuma colocar nas centenas de vezes em que cita ou entrevista a blogueira.

Apenas em 2012, do qual não completamos nem o primeiro mês, os três maiores jornais brasileiros – Estadão, Folha de S. Paulo e O Globo – já fizeram cada um uma entrevista exclusiva com Yoani, além da publicação de incontáveis matérias e notas de agências. É claro que nenhuma delas questionou o financiamento do Generacion Y, a “censura” que a entrevistada alega sofrer, ou qualquer questão mais profunda ou contundente sobre a situação em Cuba. O tema dos cinco cubanos presos nos EUA, trazido novamente à tona pelo recente livro de Fernando Morais, também não foi colocado. Sobre o cerco do governo norte-americano a Cuba, novo silêncio.

Há, sim, nas três entrevistas, pressão combinada entre a entrevistada e os entrevistadores para que, em sua visita a Cuba, Dilma se encontre opositores do governo cubano, mas, curiosamente, quando um presidente brasileiro vai aos EUA não se pressiona para que reserve espaço para audiências com a oposição do momento. Ao mesmo tempo, há gritos pelo direito de Yoani de vir ao Brasil, mas a legislação cubana para imigração não é explicada com clareza em momento algum.

Apenas o jornal Zero Hora conseguiu superar Estadão, Folha e O Globo. Em menos de um mês, duas entrevistas com Yoani, ambas por telefone. Parece que o acesso da imprensa internacional à blogueira não é tão difícil. Onde está a censura, então? Umaentrevista concedida por Yoani a um jornalista francês, em 2010, dá boas indicações sobre a resposta mais adequada. Mas é claro que essa reportagem, absolutamente crítica e que derruba por terra a credibilidade da blogueira, não foi reproduzida ou comentada na velha mídia brasileira. Não é aquela a face de Yoani que interessa aos grandes grupos midiáticos. Ao francês Salim Lamnarium, ela afirma que seu blog não pode ser acessado em Cuba, ao que ele responde que acabara de acessá-lo. Então ela se enrola um pouco, e reclama que não tem espaço nos maiores veículos de mídia do país. Quantas pessoas têm espaço nos maiores veículos de mídia do Brasil?

Yoani é uma peça interessante no tabuleiro que sedia a luta entre a Revolução Cubana e o imperialismo capitalista. Ela usa a mídia internacional para se promover e ganhar dinheiro – muito dinheiro, como indicam ao menos as premiações que recebe – ao mesmo tempo em que é usada como fonte principal de tudo o que se fala sobre Cuba, sempre com o direcionamento de ataques frontais ao governo cubano. As entrevistas a que a blogueira responde são pouco questionadoras e muito elogiosas à “sua luta por liberdade”, e, nessa dinâmica, é construída uma imagem de Cuba filtrada apenas pelos olhos suspeitos de Yoani Sánchez e por sua conta bancária recheada de dólares e euros.

domingo, 29 de janeiro de 2012

Irã: A possível batalha pelo Estreito de Ormuz... Ou não necessariamente?


Depois de ouvir ameaças dos EUA durante anos, o Irã está tomando medidas que sugerem que considera fechar o Estreito de Ormuz e que tem capacidade para fazê-lo. Dia 24/12/2011, o Irã iniciou exercícios navais (Operação Velayat-90) no e à volta do Estreito de Ormuz, do Golfo Persa e Golfo de Omã (Mar de Omã), ao Golfo de Aden e Mar da Arábia.
Desde o início daqueles exercícios, cresce a guerra de palavras entre Washington e Teerã. Mas nada do que o governo Obama ou o Pentágono disseram ou fizeram, até agora, dissuadiu Teerã de dar prosseguimento aos seus exercícios navais.
A natureza geopolítica do Estreito de Ormuz
À parte ser ponto vital de trânsito para recursos energéticos globais e gargalo estratégico, dois outros aspectos devem ser considerados se se analisa o Estreito de Ormuz e a importância que tem para o Irã: (1) a própria geografia do Estreito; e (2) o papel do Irã na co-administração do estreito, nos termos da legislação internacional e das leis nacionais iranianas.
As embarcações de todos os tipos que passam pelo Estreito de Ormuz sempre mantiveram contato com as forças navais iranianas – a Marinha Regular Iraniana e a Marinha da Guarda Revolucionária do Irã. As forças navais iranianas monitoram e policiam o Estreito de Ormuz, administração compartilhada com o Sultanato de Omã, através de um enclave omanita que há ali, Musandam. Mais importante que isso: para navegar através do Estreito de Ormuz todo o tráfego marítimo, inclusive a Marinha dos EUA, é obrigada a navegar por águas territoriais iranianas; para sair, em muitos casos, cruzam-se águas territoriais de Omã.
O Irã sempre permitiu que embarcações estrangeiras amigas cruzem suas águas territoriais, nos termos, também, da Parte III da Convenção da ONU sobre Lei do Mar e de trânsito por mar, que estipula que as embarcações são livres para navegar pelo Estreito de Ormuz e outros corpos d’água semelhantes, em velocidade constante e sem se deterem, de um porto aberto até águas internacionais. Embora as autoridades de Teerã sigam as rotinas da Lei do Mar, Teerã não é legalmente obrigada a segui-las. Como Washington, Teerã também assinou seu específico tratado internacional e jamais o ratificou.

Tensões entre EUA e Irã no Golfo Persa
Atualmente, o Parlamento (Majlis) iraniano está reexaminando o uso de águas iranianas no Estreito de Ormuz, por embarcações estrangeiras. Há projetos de lei em exame, para bloquear o trânsito de embarcações de guerra estrangeiras por águas territoriais iranianas através do de Ormuz sem prévia permissão das autoridades iranianas; a Comissão de Segurança Nacional e Política Exterior do Parlamento do Irã está examinando projetos de lei que manifestarão a posição oficial do Irã, orientada pelos interesses estratégicos e da segurança nacional do Irã. [1]
Dia 30/12/2011, o porta-aviões USS John C. Stennis (na foto principal) passou pela área na qual o Irã desenvolvia exercícios navais. O Comandante das Forças Iranianas Regulares, major-general Ataollah Salehi, alertou o USS John C. Stennis e outros navios dos EUA para que não voltassem ao Golfo Persa, enquanto durassem as manobras navais do Irã; acrescentou que o Irã não tem o hábito de dar o mesmo aviso duas vezes. [2] Pouco depois do duro aviso iraniano, o secretário de imprensa do Pentágono respondeu, em declaração em que se lia: “Ninguém, nesse governo procura confrontação [com o Irã] no Estreito de Hormuz. É importante baixar a temperatura.” [3]
Num cenário real de conflito militar com o Irã, é bastante provável que porta-aviões dos EUA tenham de realmente operar de fora do Golfo Persa, do sul, do Golfo de Omã e do Mar da Arábia. A menos que já seja operacional o sistema de mísseis que Washington está desenvolvendo nas petromonarquias sul do Golfo Persa, deve-se contar com a proibição de que grandes naves de guerra dos EUA cheguem ao Golfo Persa. Isso, por causas associadas à geografia local e às capacidades de defesa do Irã.
A geografia contra o Pentágono: no Golfo Persa, a força naval dos EUA é limitada
As forças navais dos EUA – a Marinha e a Guarda Costeira dos EUA – são as maiores do mundo. Nada se compara às capacidades dos EUA em águas profundas e oceânicas. Mas ser a maior e a mais potente não implica que seja invencível. No Golfo Persa e no Estreito de Ormuz, as forças navais dos EUA são vulneráveis.
Apesar do poder e das muitas capacidades, a geografia trabalha literalmente contra o poder naval dos EUA no Estreito de Ormuz e no Golfo Persa. O Golfo Persa, pelo menos em contexto estratégico e militar, é como um canal. Em termos figurativos, os porta-aviões e grandes navios de guerra dos EUA ficam ali confinados, pode-se dizer, “presos”, nas águas costeiras do Golfo Persa
É isso, precisamente, que amplia muito as já altas capacidades dos mísseis iranianos. O arsenal de mísseis e torpedos do Irã tem potencial para neutralizar as armas navais dos EUA em águas do Golfo Persa. Por isso os EUA tanto se empenham hoje para construir um “escudo” de mísseis no Golfo Persa, associando nessa empreitada os países do Conselho de Cooperação do Golfo, já há alguns anos.
Até os pequenos barcos-patrulha iranianos no Golfo Persa, que parecem insignificantes e muito pequenos comparados a um porta-aviões ou a um destróier gigantes, são ameaça considerável às naves de guerra dos EUA, naquele cenário. Os barcos-patrulha podem disparar uma barreira de mísseis que, sim, podem danificar muito e, mesmo, destruir grandes navios de guerra. Além disso, os barcos-patrulha iranianos são quase indetectáveis e são alvos difíceis, porque são pequenos e rápidos.
As forças iranianas também podem minar as capacidades navais dos EUA no Golfo com mísseis lançados de terra, do interior do país, nas áreas próximas do norte do Golfo Persa. Já em 2008 o Washington Institute for Near East Policy reconheceu a ameaça, para forças navais dos EUA no Golfo, das baterias de mísseis costeiros, dos mísseis terra-mar e dos pequenos barcos armados com mísseis. [4] A Marinha do Irã também conta com drones, veículos anfíbios, minas, equipes de mergulhadores e minissubmarinos, que serão mobilizados em qualquer guerra naval assimétrica contra a 5ª Frota dos EUA.
O próprio Pentágono já comprovou, em simulações, que uma guerra no Golfo Persa seria desastrosa para os EUA. Exemplo disso é a operação Millennium Challenge 2002 (MC02), simulação de guerra no Golfo Persa, feita entre 24/7/2002 e 15/8/2002, cuja preparação consumiu quase dois anos. Essa manobra naval gigante foi das maiores e mais caras jamais organizadas pelo Pentágono. Millennium Challenge 2002 foi criada pouco depois de o Pentágono decidir que poderia fazer avançar a guerra no Afeganistão, se atacasse Iraque, Somália, Sudão, Líbia, Líbano e Síria, recolhendo ao final, como grande prêmio, o Irã – numa ampla campanha militar que daria aos EUA a primazia no milênio que se iniciava.
Depois de terminada a operação Millennium Challenge 2002, a operação foi oficialmente apresentada como simulação de guerra contra o Iraque de Saddam Hussein. De fato, sempre se tratou do Irã. [5] Os EUA já tinham as avaliações necessárias para a invasão do Iraque, por EUA e Grã-Bretanha, que aconteceria pouco depois. E, detalhe importante, o Iraque jamais teve força naval que exigisse empenho total da Marinha dos EUA.
A Operação Millennium Challenge 2002 foi, sim, simulação de guerra contra o Irã (na simulação chamado de “Red” [Vermelho] e apresentado como estado “bandido” [orig. rogue] do Oriente Médio no Golfo Persa). Só o Irã tem todas as características de território e forças militares apresentadas como de “Red” – dos botes-patrulha armados com mísseis até as unidades de motociclistas. Aquela simulação monstro foi feita porque Washington planejava atacar o Irã imediatamente depois de invadir o Iraque em 2003.
(…)
Não há qualquer dúvida entre os especialistas de que o formidável poder naval dos EUA resulta muito reduzido, pela geografia e pelas capacidades militares nos iranianos, no caso de combate no Golfo Persa e, de fato, em grandes partes também do Golfo de Omã. Longe de águas abertas, como no Oceano Índico ou no Oceano Pacífico, os EUA teriam de combater sob condições extremas, sem a garantia de suficiente tempo de resposta e, mais importante, ficarão impedidos de combater de distância (considerada militarmente) segura. Setores inteiros das defesas navais dos EUA, concebidos para combates navais em águas abertas e grandes distâncias entre os combatentes, são absolutamente imprestáveis, nas condições de combate no Golfo Persa.
Reduzir a importância do Estreito de Ormuz, para enfraquecer o Irã?
O mundo inteiro sabe da importância do Estreito de Ormuz. E Washington e seus aliados sabem perfeitamente que os iranianos podem fechar militarmente o estreito por período significativo de tempo. Essa é a razão pela qual os EUA estão trabalhando com países do Conselho de Cooperação do Golfo – Arábia Saudita, Qatar, Bahrain, Kuwait, Omã e Emirados Árabes Unidos – para alterar o trajeto de oleodutos que evitem o Estreito de Ormuz e levem o petróleo do CCG diretamente ao Oceano Índico, Mar Vermelho e Mar Mediterrâneo. Washington também tem pressionado o Iraque para que busque vias alternativas em conversações com a Turquia, a Jordânia e a Arábia Saudita.
Esse projeto estratégico interessa muito também a Israel e à Turquia. Ancara tem mantido discussões com o Qatar sobre a instalação de um oleoduto que chegaria à Turquia através do Iraque. O governo turco tentou que o Iraque se interessasse por ligar os campos de petróleo do sul e do norte a rotas de trânsito que atravessariam a Turquia. É o projeto dos turcos, que se veem no futuro como corredor e importante elo de trânsito e ligação de energia.
Se o petróleo puder ser “desviado”, de modo a não ter de passar pelo Golfo Persa, ter-se-á removido importante elemento de vantagem estratégica a favor do Irã e contra Washington e seus aliados (removendo-se, ao mesmo tempo, parte considerável da importância do Estreito de Ormuz. Esse “desvio” do petróleo pode bem ser considerado exigência importante, em qualquer preparação dos EUA para guerra contra o Irã. Sem isso, pode-se dizer que os EUA não farão guerra ao Irã.
Nesse contexto inscrevem-se os oleodutos Abu Dhabi Crude Oil Pipeline ou Hashan-Fujairah Oil Pipeline, projeto patrocinado pelos Emirados Árabes Unidos e que dispensaria rota marítima pelo Golfo Persa e o Estreito de Ormuz. O projeto foi concluído em 2006, o contrato assinado em 2007 e a construção começou em 2008. [8] Esse oleoduto liga diretamente Abdu Dhabi ao porto de Fujairah no litoral do Golfo de Omã, no Mar da Arábia. Em outras palavras, levará o petróleo exportado pelos Emirados Árabes Unidos diretamente ao Oceano Índico. Foi apresentado oficialmente como meio para garantir segurança energética, evitando Hormuz (e tentando evitar também o exército iraniano). Além do oleoduto, o projeto prevê também a construção de um reservatório para armazenamento de petróleo em Fujairah – que está previsto para manter o fluxo de petróleo para o mercado internacional, no caso de o Golfo Persa ser fechado. [9]

Além do oleoduto Petroline (oleoduto saudita, leste-oeste), a Arábia Saudita também procura rotas alternativas, examinando portos vizinhos na costa sul, na Península Arábica, em Omã e no Iêmen. O porto de Mukalla, no Iêmen, no litoral do Golfo de Aden tem atraído especial atenção de Riad. Em 2007, fontes israelenses informaram com algum alarde que começava a ser projetado um oleoduto que ligaria os campos de petróleo sauditas aos portos de Fujairah nos Emirados Árabes, Muscat em Omã e Mukalla no Iêmen. A reabertura do Oleoduto Iraque-Arábia Saudita [orig. Iraq-Saudi Arabia Pipeline (IPSA)] – o qual, por ironia, foi construído por Saddam Hussein, que tentava escapar também do Estreito de Ormuz e do Irã – também foi discutida entre sauditas e governo do Iraque em Bagdá.
Se Síria e Líbano fossem convertidos em estados-clientes de Washington, seria possível ressuscitar o falecido oleoduto Trans-Arabian (Tapline), além de outras rotas que vão da Península Arábica à costa do Mediterrâneo pelo Levante. Cronologicamente, esse projeto explica os esforços de Washington para derrubar os governos de Síria e Líbano, tentando isolar o Irã, antes de os EUA atacarem diretamente Teerã.
Os exercícios navais da Marinha do Irã, Operação Velayat-90, que se realizaram em área bem próxima da entrada do Mar Vermelho no Golfo de Aden, fora de águas territoriais do Iêmen, também se estenderam pela parte do Golfo de Omã frente ao litoral de Omã e litoral leste dos Emirados Árabes Unidos. Dentre outras coisas, a operação Velayat-90 deve ser interpretada como sinal de que Teerã está preparada para operar também fora do Golfo Persa; e que pode bombardear ou bloquear também os oleodutos que tentam ‘desviar’ do Estreito de Ormuz.
Também nesse caso, a geografia joga a favor do Irã. As rotas ditas “alternativas”, porque evitam o Estreito de Ormuz, nem por isso alteram o fato de que a maioria dos campos de petróleo dos países que integram o Conselho de Cooperação do Golfo localiza-se no Golfo Persa ou em áreas próximas do litoral – o que implica que são alcançáveis pelos mísseis de longa distância dos iranianos. Como no caso do oleoduto Hashan-Fujairah, os iranianos podem facilmente interromper o fluxo de petróleo, pode-se dizer, na origem. Teerã sem dúvida deslocaria forças de terra, mar e ar, além dos mísseis, e forças anfíbias para todas essas áreas. De fato, o Irã nem precisa fechar o Estreito de Ormuz; os iranianos, de fato, têm ameaçado bloquear o fluxo de petróleo (o que não precisa ser feito, necessariamente, com bloqueio do Estreito de Ormuz).
Aos EUA só restou Guerra Fria, na disputa contra o Irã
Washington está em ofensiva contra o Irã, usando todos os meios ao seu alcance. As tensões em torno do Estreito de Ormuz e do Golfo Persa são apenas um dos fronts de uma muito perigosa guerra fria regional, de muitos fronts no Oriente Médio expandido, entre Teerã e Washington. Desde 2001, o Pentágono está em processo de reestruturação para “guerras não convencionais”, pensando em inimigos como o Irã [10]. Mas a geografia sempre operou contra o Pentágono e os EUA – e é o que explica que ainda não tenham encontrado solução para o dilema naval, no Golfo Persa. Sem poder recorrer à guerra convencional, os EUA tiveram de recorrer, no caso do Irã, à guerra de espionagem, guerra econômica e guerra diplomática.
Mahdi Darius Nazemroaya é pesquisador associado ao Centre for Research on Globalization (CRG), especializado em geopolítica e estratégia.
Tradução: Vila Vudu
O original encontra-se em: Global Research


Notas do autor
[1] 4/1/2012, Xinhuanet, “Foreign Warships Will Need Iran’s Permission to Pass through Strait of Hormuz”.
[2] 4/1/2012, Fars News Agency, “Iran Warns US against Sending Back Aircraft Carrier to Persian Gulf” January 4, 2011.
[3] 4/1/2012, Reuters, Parisa Hafezi, “Iran threatens U.S Navy as sanctions hit economy”.
[4] Fariborz Haghshenass, “Iran’s Asymmetric Naval Warfare” Policy Focus, no.87 (Washington, D.C.: Washington Institute for Near Eastern Policy, September 2010). Livro para download.
[5] 6/9/2002, Julian Borger, “Wake-up call” - The Guardian.
(…)
[8] 12/6/2011, Himendra Mohan Kumar, “Fujairah poised to be become oil export hub” Gulf News.
[9] Ibid.
[10] John Arquilla, “The New Rules of War” Foreign Policy, 178 (March-April, 2010): pp. 60-67.

Global Research Articles by Mahdi Darius Nazemroaya
www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=28634 >

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

As consequências da assimetria nuclear


Na década de 70 do século passado, o Brasil desenvolvia secretamente seu programa nuclear para fins militares. Para assegurar-lhe recursos financeiros, estabelecera parceria com o Iraque, que bancava os elevados investimentos necessários em troca de acesso aos conhecimentos tecnológicos brasileiros. O responsável pelo programa na Aeronáutica era o tenente-coronel aviador José Alberto Albano do Amarante, engenheiro eletrônico formado pelo ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica).

Em outubro de 1981, Amarante foi atacado por uma leucemia arrasadora, que o matou em menos de duas semanas. Sua família tem como certo que o cientista foi morto pelos serviços secretos dos EUA e de Israel, com o objetivo de impedir a capacitação brasileira à produção de armas atômicas. Dando força às suspeitas, foi identificado um agente israelense do Mossad, de nome Samuel Giliad, atuando à época em São José dos Campos, e que fugiu do país logo após a misteriosa morte do oficial brasileiro.

O episódio dá bem o tom da virulência empregada pelos EUA e Israel para bloquear a entrada de outros países no fechado clube nuclear. Não por coincidência, apenas quatro meses antes da suposta ação em território brasileiro, Israel desfechara devastador ataque aéreo ao reator nuclear de Osirak, no Iraque, que vinha sendo construído pelos franceses.

Tais fatos dão credibilidade às reiteradas denúncias do governo iraniano de que seus cientistas estão sendo alvo de atentados por parte dos serviços secretos estadunidense, britânico e israelense. Somente em 2010, foram mortos os físicos Masud Ali Mohamadi e Majid Shariari, que atuavam no desenvolvimento de reatores nucleares, ambos vítimas de explosões de bombas em seus próprios automóveis, enquanto o chefe da Organização de Energia Atômica do Irã, Abbasi-Davanina, escapava por pouco da detonação de um carro-bomba, conforme ele próprio denunciou durante a conferência anual da Agência Internacional de Energia Atômica, em setembro último. Em julho de 2011, o físico Daryush Rezaei, 35 anos, foi morto a tiros em frente a sua casa, em ataque que também feriu sua esposa. Esses são alguns dos muitos casos de assassinatos e desaparecimentos de cientistas e chefes militares iranianos nos últimos anos.

Os crimes se dão em paralelo às intensas pressões do governo dos EUA para que a comunidade internacional aplique severas sanções ao Irã sob o argumento de que o país descumpre o Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares (TNP).

Criado pela ONU em 1968, o acordo tem três objetivos principais: coibir o uso de tecnologia nuclear para produção de armas, eliminar os armamentos nucleares existentes e regular o uso de energia nuclear para fins pacíficos. Convenientemente, as grandes potências interpretam o acordo segundo seus próprios interesses: bloqueiam o desenvolvimento da pesquisa dos países não detentores de armas atômicas, mesmo quando para fins pacíficos, e fazem letra morta dos dispositivos do tratado que determinam o desarmamento.

Como previa o embaixador do Brasil na ONU, em 1968, José Augusto Araújo de Castro, quando atuou para impedir a adesão do Brasil ao TNP, o tratado é apenas um instrumento para perpetuar o poder das grandes potências.

Documentos divulgados pelo Wikileaks deixam clara a disposição dos EUA em não reduzir o número de ogivas nucleares instaladas na Europa. Por outro lado, enquanto todos os países do Oriente Médio fazem parte do TNP, Israel, único detentor de armas nucleares na região, nega-se a aderir ao acordo e repudiou as censuras de que foi alvo no relatório final da última reunião quinquenal do TNP, em 2010, gerando a ameaça dos demais governos vizinhos de abandonar o tratado na próxima reunião, marcada para 2012.

As guerras contra o Afeganistão, Iraque e Líbia, mais as ameaças contra a Síria, Coreia e Irã, parecem evidenciar que somente a capacidade de retaliação atômica intimida o império, já que a assimetria das forças alimenta aventuras dos Estados Unidos e de seus sócios de rapina, todos em busca de conflitos bélicos, seja para assegurar domínios seja para encobrir seus graves problemas domésticos.

A conjuntura estratégica do Oriente Médio indica que, para sua sobrevivência, o Irã não tem outra alternativa que a de construir sua bomba e, nesse sentido, corre contra o tempo, dado o cerco que se fecha contra o país.

Como analisa o cientista político paquistanês Tariq Ali, não é despropositado considerar que o surgimento de outra potência nuclear no Oriente Médio possa propiciar estabilidade política à região e ao mundo, por contraditório que possa parecer.

Por Sued Lima, brasileiro, Coronel Aviador reformado e pesquisador do Observatório das Nacionalidades

domingo, 22 de janeiro de 2012

China dá o primeiro passo para reciclar os petrodólares


Bhadrakumar, Indian Punchline

O acordo de troca de moedas assinado entre China e Emirados Árabes Unidos (EAU) durante a viagem do premiê Wen Jiabao pela região do Golfo Persa, que termina hoje, provocará incômodo nas capitais ocidentais, especialmente em Londres e Washington. A lista de países com os quais a China já tem esse tipo de acordo vai aumentando lenta e continuadamente, e esse é o primeiro desses acordos assinado com estado do Conselho de Cooperação do Golfo (CCG).

O acordo com os EAU cobre $5,5 bilhões – o comércio bilateral no ano passado, com as exportações chinesas responsáveis por 2/3, alcançou $36 bilhões – e visa a “fortalecer a cooperação financeira bilateral, promovendo o comércio e os investimentos e, simultaneamente, salvaguarda a estabilidade financeira regional” – segundo o Banco Central da China. A China está, essencialmente, fornecendo ‘seed money’ [lit. ‘dinheiro semente’], para que os comerciantes não precisem converter ao dólar todas as transações, o que reduz os custos de câmbio.

À primeira vista, o critério é da conveniência, mas evidentemente lança sombras sobre vários outros campos. Bem visivelmente, a China está tratando de ‘sensibilizar’ o Oriente Médio, em relação à função do renminbi[1]. Estar guardado como moeda de reserva nos cofres dos Emirados Árabes Unidos aumenta o prestígio do renminbi. Quanto aos Emirados Árabes Unidos, ter o poderoso yuan em suas reservas é a medida mais segura que jamais tomaram no mundo da alta finança, dado que a valorização da moeda chinesa é evento praticamente garantido para o futuro.

Além disso, a troca de moedas chama a atenção para o rápido crescimento dos laços econômicos da China com a região do CCG. É uma declaração política de que a China trabalha para ampliar seus laços com os Emirados Árabes Unidos que, até agora, historicamente, sempre viveram como ‘bolsão’ dos britânicos no Oriente Médio. Dos dhows[2], ouvem-se os gritos ‘Yo, ho, os chineses estão chegando!’

Mas estão chegando também com propósito bem claro. Abu Dhabi controla 7% das reservas comprovadas de petróleo do mundo, o preço do barril já está ultrapassando os $100, os EAU estarão renovando suas concessões de petróleo em 2014, e, então, as empresas chinesas com certeza estarão posicionadas para dar trabalho, na disputa pelas concessões, à Royal Dutch Shell, à ExxonMobil e à Total francesa. Claro, os EAU são mercado difícil, no qual a cultura de negócios ocidental está profundamente enraizada, mas... nunca subestimem os chineses.

Acima de tudo, a China dá seus primeiros passos no mundo embriagador da reciclagem de petrodólares, e é difícil imaginar que Pequim não saiba o que está fazendo agora, nessa troca de moedas com os Emirados Árabes Unidos. A China é país milenar e sabe muito bem que qualquer longa marcha começa num pequeno primeiro passo.

O xis da questão é que as moedas dos países do Conselho de Cooperação do Golfo são aderidas ao papel verde, e seus massivos lucros são em grande parte encaminhados para os cofres dos bancos de Londres ou New York, ou são usadas para comprar ações e bônus do Tesouro dos EUA – e, isso, quando não são usadas para comprar armas ou noutros gastos extravagantes.

O negócio agora assinado entre China e Emirados Árabes Unidos meteu um pensamento muito excitante na cabeça dos estados do CCG: a possibilidade de faturar em renminbis – que muito preocupará o ocidente. Atualmente, ninguém precisará perder o sono, porque Pequim restringe rigidamente os fluxos de sua moeda fora das fronteiras chinesas, mas não há dúvidas de que a China já está implantando toda a infraestrutura indispensável para uma era, não muito distante, quando poderá dar adeus às estritas restrições hoje vigentes para o fluxo de moedas, se se interessar por usar o renminbi no comércio internacional. É possível que em 2025 a China esteja importando três vezes mais petróleo dos países do CCG, do que Tio Sam.

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[1] Renminbi [lit. “moeda do povo”] é o nome oficial da moeda oficial da China, introduzida pelo Partido Comunista da República Popular da China, na fundação, em 1949. Também chamado “yuan” (abr. RMB; símbolo ¥; código CNY, CN¥, 元 e CN元 (http://www.chinadaily.com.cn/business/2006-09/29/content_699307.htm) [NTs].
[2] Embarcação mercante tradicional na região (ver em http://en.wikipedia.org/wiki/Dhow) [NTs].

Tradução: Vila Vudu

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Sayyed Hasan Nasrallah: “Nossa certeza de que trilhamos o caminho certo só aumenta”


Sara Taha Moughnieh, Al Manar TV, Beirute
Milhares de pessoas marcharam ontem [sábado] de várias regiões do Líbano para a cidade de Baalbek para comemorar o Arba'een, em cerimônia organizada pelo Hezbollah, intitulada “Procissão de Luto e Orgulho”.

Em discurso na véspera do Arba'een, na 6ª-feira à noite, o secretário-geral do Hezbollah, Sayyed Hasan Nasrallah, explicou que a cerimônia foi organizada em Baalbek, porque os cativos de Karbala passaram por essa região, quando levados de Karbala ao castelo de Yazid em Damasco.

Os cativos eram o Imã Ali Bin Hussein, Sayyeda Zainab e todas as esposas e filhos do Imã martirizado, seus amigos e sua família.

No final da cerimônia, que incluiu leitura de versos do Corão, recitação e lamento pela tragédia da Ashura, Sayyed Hasan Nasrallah falou, em discurso em que lembrou as grandes lições da Ashura e comentou alguns eventos do quadro político local e regional.

Começando com as lições aprendidas do Imã Ali Bin Hussein e Sayyeda Zainab, quando foram levados ao castelo de Yazid, Sayyed Nasrallah disse: “Colhemos uma frase da fala de Ali Bin Hussein antes de Yazid e uma frase da fala de Sayyeda Zainab, para fazer delas nosso mote, nossa fala e nossa posição.”

“Hoje, vendo o que está acontecendo no mundo, vendo as ameaças que fazem EUA, Israel e seus agentes na região, repetimos aquelas falas e dizemos: Vocês nos ameaçam com a morte? Somos filhos de Hussein, Zayn Al-Abidin, Profeta de Alá, somos sua família, seus amigos, somos os filhos [das batalhas de] Badr, Khaybar, Hunain e Karbala. A morte para nós é lei e Alá nos honra com o martírio.”

Sayyed Nasrallah continuou: “Com esse espírito nós enfrentamos vocês desde 1982… e com a força de Zainab lutamos todas as lutas e dizemos aos tiranos do mundo: Usem todos os seus poderes, façam tudo que consigam fazer e, por Alá, vocês jamais apagarão nem nossa presença nem nossa memória nem o efeito de nossa ação. E vocês jamais conhecerão nossos limites.”

Resposta a Ban Ki-Moon:

O secretário-geral do Hezbollah reiterou a adesão ao caminho da resistência armada, e repetiu que essa resistência e essas armas, além do exército e do povo, são a única garantia que há para a segurança, dignidade e estabilidade do Líbano.

“Ontem, foi uma felicidade para mim ouvir o secretário-geral da ONU Ban Ki-Moon dizer que está preocupado com o poder militar do Hezbollah. Digo-lhe que isso nos alegra, porque queremos, sim, que vocês, EUA e Israel, preocupem-se mesmo, e muito. Que vocês estejam preocupados não nos preocupa. Só nos preocupa a segurança de nosso povo. Porque há resistência armada no Líbano vocês estão impedidos de ocupar ou violar a dignidade do Líbano” – disse Sua Eminência, em resposta à fala de Ban Ki-Moon, 6ª-feira, no Líbano, na qual pediu que o Hezbollah entregue suas armas.

“Digo a ele e a todo o mundo que a resistência continuará armada no Líbano, e aumentará seu poder, suas capacidades, a prontidão. A certeza de que fizemos a escolha certa só aumenta. De nossa experiência no Líbano, na Palestina, no Iraque – em todas as regiões que conheceram e conhecem a ocupação –, nós perguntamos: “Que benefício alguém obteve por confiar na Liga Árabe, nos governos árabes, na Organização da Conferência Islâmica, na Organização das Nações Unidas, no Conselho de Segurança, na União Europeia e em organizações como essas?”

E continuou: “O resultado é que a Palestina continua ocupada, mais de dez mil palestinos continuam presos em prisões israelenses, milhões de palestinos vivem exilados fora da própria terra, e Al-Quds [Jerusalém] é violada diariamente e judaicizada pelos sionistas.”

“Por outro lado, a resistência no Líbano, que crê em Deus e confia na força de seus combatentes e no apoio de seu povo, conseguiu a libertação, como a resistência em Gaza e no Iraque.”

Sobre o Diálogo Nacional:

Sobre a questão do diálogo nacional, Sayyed Nasrallah assegurou que o Hezbollah está pronto para iniciar diálogo sobre a estratégia de defesa nacional que protege o Líbano; mas rejeita qualquer diálogo sobre o desarmamento da resistência.

Sobre o Imã Moussa Al-Sadr e a causa de seus companheiros:

O secretário-geral do Hezbollah falou sobre o caso do Imã Moussa Al-Sadr e seus dois companheiros Xeique Mohammad Yaaqoub e Sr. Abbas Badreddine, e garantiu o apoio do Hezbollah às medidas tomadas pelo governo libanês e a delegação libanesa à Líbia sobre a questão. E agradeceu aos funcionários líbios que se dispuseram a cooperar.

Sobre a segurança interna:

No plano da segurança nacional, Sua Eminência destacou o compromisso do Hezbollah com a paz e a estabilidade civis, e destacou que as diferenças políticas nesse campo não devem afetar a segurança e a paz civis.

“Insisto nesse compromisso e destaco que preservar a segurança e enfrentar o crime em todas as regiões é responsabilidade do governo, do exército e dos aparelhos de segurança” – disse.

Sobre o governo do Líbano:

Paralelamente, Sayyed Nasrallah espera que o primeiro-ministro e os demais ministros empreendam grandes esforços para que o governo seja bem sucedido.

Sua Eminência convocou o Gabinete a ser mais ativo e a dar prioridade às questões que afetam os mais pobres, para ganhar apoios; e alertou que há grupos que não desejam que o atual governo seja bem-sucedido.

Sobre os desenvolvimentos na Síria:

Sayyed Hasan Nasrallah lembrou que o Líbano é o país mais afetado pelos desenvolvimentos na Síria. Sobre isso, disse:

“Além de nosso interesse e de nosso amor pelo povo, exército e presidente da Síria, conclamamos a oposição síria, dentro e fora do país, a responder ao chamado do presidente Bashar Al-Assad para que todos se reúnam em um diálogo nacional sírio; e que todos cooperem com o presidente para implementar as reformas já anunciadas. Conclamamos todos, além do mais, a restaurar a paz e a estabilidade no país, a deporem armas e a buscar pelo diálogo a solução para o país.”

Lembrando algumas declarações recentes, Sua Eminência alertou para o risco de algumas declarações incitarem ao sectarismo na região: “Digo a todos os países que a atitude de incitar à violência pela imprensa e nas ruas é que abre o caminho para confrontos sectários. Quem esteja honestamente empenhado em manter a Síria e nossa região a salvo de guerras sectárias deve começar por mudar aquela atitude e empreender esforços para unir os árabes, em cooperação com a República Islâmica do Irã e com a Turquia, para ajudar a pôr fim à crise na Síria, em vez de se empenharem em assoprar as chamas para aumentar o fogo e as tensões em toda a região.”

Sobre as explosões no Iraque:

Comentando os suicidas-bomba e as recentes explosões no Iraque, que mataram e feriram centenas de pessoas nas preparações para comemorar o Arba'een do Imã Hussein, Sayyed Nasrallah disse que todos devem condenar esses atos.

Conclamou “os intelectuais, políticos, partidos e movimentos libaneses, especificadamente os islâmicos, a denunciar os suicidas-bomba que visam civis exclusivamente por diferenças ideológicas, políticas ou religiosas, seja no Iraque, no Paquistão, no Afeganistão, na Síria, na Somália ou na Nigéria e onde ocorram, e visem muçulmanos ou cristãos.”

Sua Eminência prosseguiu: “O único ‘crime’ dos que hoje estão sendo mortos no Iraque é ter querido visitar o filho do Profeta de Alá. A verdade é que os matadores queriam vingar-se da resistência iraquiana que derrotou os exércitos da ocupação e obrigou-os à retirada.”

“Digo àqueles matadores, sejam quem forem, que matar é inútil, e que eles não conseguirão deter a caminhada dos que buscam Alá, como a matança em Karbala não deteve a marcha, nem a marcha será detida por matanças no Líbano, na Palestina, no Iraque ou no Irã.”

Sobre o assassinato do cientista iraniano:

Sayyed Nasrallah afirmou que o assassinato de cientistas nucleares no Irã não conseguirá impedir que a República Islâmica prossiga na trilha do desenvolvimento científico e tecnológico.

“Assassinam os cientistas nucleares porque querem que nós, nessa parte do mundo, sejamos todos cantores, bailarinos, gente que desperdiça, sem qualquer proveito, seus dias e suas noites. Mas se produzimos aqui nossos cientistas, químicos, físicos ou médicos, e se fizermos de nós mesmos nações que produzem conhecimento – que é hoje o maior poder –, eles não aceitam e matam nossos cientistas e nossos especialistas locais” – disse Nasrallah.

Sobre eventos regionais:

Na conclusão, Sayyed Nasrallah conclamou as autoridades do Bahrain a atender as demandas do povo, a iniciar as reformas e a manter diálogo sério com a oposição.

Falou sobre a situação na Palestina: “Dia após dia o povo palestino está vendo que a resistência é a única escolha, e que os inimigos da Palestina não querem que os palestinos se unam e se reconciliem, porque seu único objetivo, a meta da qual jamais desistem, é manter-nos divididos e fragmentados.”

“Irmãos e irmãs no Líbano, Palestina, Síria, Iraque e em toda a região, nossa trilha para a glória, a dignidade, a independência, a libertação, o poder, a prosperidade e a segurança tem de ser a trilha da unidade, evitando todas as provocações e incitações à divisão e ao conflito, resolvendo as dificuldades mediante o diálogo, persistindo no espírito da livre escolha e da resistência” – disse Sayyed Nasrallah.

“Ao longo da história, a experiência, como se vê também aqui nesse grande evento, prova que o espírito da resistência rejeita a humilhação, ama o martírio e tem fé no futuro e na vitória que se aproxima. O espírito da resistência nos levará à unidade, ao poder, à segurança, à glória e à vitória” – concluiu Sua Eminência.
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[1] Arba'een (Arabic: اربعين‎, "quarenta") ou Chehelom (Persian: چهلم "o quadragésimo [dia]”), é uma das maiores peregrinações do planeta, quando mais de 10 milhões de pessoas visitam a cidade de Karbala no Iraque. Reúne os muçulmanos falantes de persa e de urdu do sul e do centro da Ásia. O Arba'een é solenidade religiosa dos muçulmanos xiitas que se realiza 40 dias depois do Dia da Ashura, e realiza-se em todo o mundo, para recordar o martírio de Hussein bin Ali, neto do Profeta Maomé. A solenidade é realizada no vigésimo dia do mês de Safar [mais sobre isso em http://en.wikipedia.org/wiki/Arba'een] (NTs).

Tradução: Vila Vudu

sábado, 14 de janeiro de 2012

Chefe de observadores árabes na Síria rebate ataque midiático



O general sudanês Mohammad al-Dabi, chefe dos observadores árabes na Síria, desmentiu declarações hostis ao governo de Damasco feitas por um membro do grupo a um canal via satélite, que depois abandonou a equipe.

Em uma declaração à imprensa, que circula nesta sexta (13), al-Dabi assegura que o que foi dito pelo argelino Anwar Malek à Al-Jazeera é completamente falso, e lhe acusou de cometer perjúrio.

Desde que foi integrado à equipe observadora em Homs -relata o general sudanês- Malek não saiu de seu hotel durante uma semana, e não participou de nenhuma das visitas de campo realizadas por seus homólogos em localidades dessa província, com o pretexto de que se encontrava doente.

Já desde a última semana, a emissora de televisão al-Jazeera começou a utilizar Malek em sua propaganda anti-síria. O primeiro que foi dito foi que as autoridades haviam lhe roubado e depois bloqueado o celular, o que o próprio inspetor teve que negar.

A missão observadora na Síria encontra-se sob fortes pressões para que seus relatórios não se oponham ou, ao menos, não se distanciem do roteiro traçado pelos centros de poder do Ocidente e seus aliados árabes na campanha anti-síria.

Al-Dabi explicou que em um dia dantes de sair de Damasco, Malek solicitou que lhe permitissem viajar a Paris para se submeter a um tratamento e que aceitou seu pedido; no entanto, viajou antes de que se adotassem as medidas requeridas para a viagem e sem cumprir o que lhe foi confiado para que participasse na missão a Homs.

O general sudanês ressalta em seu comunicado que Malek cometeu perjúrio e é responsável pelo que disse, o que não corresponde com a postura, nem com a visão, que têm seus colegas que trabalham em Homs, nem da chefia da equipe observadora.

Segundo a Al-Jazeera, Malek já em Paris expressou que esta missão é uma farsa, que beneficia o governo sírio e que as autoridades a manipulam e não cooperam nem brindam facilidades para o trabalho, o que está em sintonia com a retórica dos adversários de Damasco.

Al-Dabi reitera seu chamado a todos os meios a investigar com exatidão antes de emitir julgamentos e difundir reportagens, e aderir à realidade e serem objetivos.

Por outro lado, o chefe do Escritório de Operações da Missão Observadora, Adnan al-Khudhir confirmou que os observadores prosseguem seu trabalho sem dificuldade nas áreas atribuídas, e que continuarão seu trabalho até o dia 19 de dezembro, tal como se acordou no protocolo assinado entre o governo sírio e a Liga Árabe (LA).

Em uma declaração em sua sede no Cairo, Egito, al-Khudhir indicou que um grupo de países árabes e organizações civis da região pediram para se somarem à missão na Síria, mas que não receberem solicitação de mais pessoal por parte do geral Mohammad al-Dabi, chefe da mesma.

Recordou que o número de inspetores sobre o terreno é agora de 161, e que está pronto outro grupo para viajar assim que for solicitado, ao mesmo tempo em que desmentiu que a ONU estivesse assessorando ou adestrando novos observadores para serem enviados à Síria.

Al-Khudhir desmentiu a retirada de inspetores, e afirmou que um membro argelino da missão pediu para abandoná-la por razões de saúde, bem como outro sudanês, por motivos pessoais.

Sobre o trabalho destes monitores, o funcionário afirmou que deve ser coordenado com o governo sírio, conforme o protocolo assinado para escolher as áreas a visitar, e acrescentou que as autoridades expressaram seu compromisso com a proteção dos observadores.

O trabalho de proteção, no entanto, é uma tarefa muito complexa e difícil, como demonstrou o ataque com granadas propulsadas à distância por um grupo armado contra uma delegação de jornalistas estrangeiros que visitava o bairro Ekrima da cidade de Homs na última quarta-feira.

O ataque terrorista, apesar da proteção que tinham, resultou na morte do jornalista francês Gilles Jacquier e de oito cidadãos sírios. Mais 25 outras pessoas ficaram feridas, entre elas três membros do grupo de imprensa, incluindo dois repórteres belgas, um deles em estado muito crítico.

Esses grupos armados, dos quais participam um grande número de mercenários recrutados entre organizações islâmicas extremistas em países da região, têm muito bom treinamento e instrução, além de se apoiarem em comunicação de inteligência, assinalam especialistas nessa matéria.

O chanceler de Argélia, Mourad Medelci, afirmou no dia anteriror que o governo sírio tem dado passos para dissipar a crise, mas a Liga Árabe enfrenta problemas com os grupos armados que operam no país.

Em uma coletiva de imprensa na ONU, Medelci relatou que Damasco cumpriu com o que lhe foi pedido, retirando as forças armadas das zonas que enfrentam problemas com a violência terrorista, soltando milhares de presos e propiciando uma abertura à imprensa.

Fonte: Prensa Latina, Vermelho

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Fotos de crianças palestinas







Diante do silêncio criminoso da mídia ocidental, e do apoio genocida do imperialismo norte-americano, o povo palestino continua sendo massacrado diariamente, desde a fundação do estado artificial de Israel.
Veja mais fotos em http://occupiedpalestine.wordpress.com/2010/10/26/children-of-palestine/

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

CIA, MI6 e Mossad: Juntos contra a Síria

O Ocidente está fazendo o seu melhor para desestabilizar a situação na Síria, informa o escritor e jornalista Webster Tarpley. Segundo ele, os civis estão enfrentando esquadrões da morte e terrorismo cego, o que é típico da CIA.

"O povo sírio tem denunciado sistematicamente que estão sendo alvejados por franco-atiradores. Pessoas reclamaram que há atiradores terroristas atirando em civis, terrorismo cego simplesmente, com o sinistro propósito de desestabilizar o país. Eu não chamaria isso de guerra civil - é um termo muito enganador. O que você está assistindo aqui são os esquadrões da morte, você está lidando com comandos de terror; este é um método típico CIA. Neste caso, é uma produção conjunta da CIA, MI6 e Mossad, financiados por dinheiro que vem da Arábia Saudita, dos Emirados Árabes Unidos e Qatar ", explicou.

Ele acrescentou que a sociedade síria é a sociedade mais tolerante no Oriente Médio, o único lugar onde todos os tipos de pessoas vivem juntas em harmonia notável, muçulmanos e cristãos de todos os tipos.

"Este é um modelo de coexistência pacífica dos diversos grupos étnicos. Mas a doutrina do governo norte-americano é fustigar as diferenças etnias e fomentar guerras para justificar invasão e dominação ", acrescentou.

O presidente Bashar Al Assad é chamado pela mídia ocidental de ditador e ilegítimo. Mas os EUA e Europa não parecem preocupados com o fato de que a falta do presidente sírio poderia causar ainda mais violência, como foi visto no Egito, acredita Tarpley.

"Depois de a Líbia se tornar um banho de sangue com 200.000 mortos, e agora com o Egito mostrando o que era o tempo todo - não houve revolução lá, foi um completo fracasso e agora as pessoas estão começando a entender isso. Ainda assim, Hillary Clinton continua a empurrar esse modelo falido de falsa revolução árabe, apoiados por tropas terroristas – os fanáticos da Al-Qaeda e da Irmandade Muçulmana. Há um movimento crescente dentro da comunidade islâmica síria que diz: "Nós queremos reconciliação, queremos a lei e a ordem: nós queremos a legalidade", disse ele.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

O jornalismo hipócrita da Rede Globo e da mídia nacional


No primeiro dia útil de 2012 a Rede Globo e a mídia brasileira noticiaram – de forma hipócrita – que o Irã, mais uma vez, desafiava o mundo ao fazer testes com mísseis de médio e longo alcance no Estreito de Ormuz, por onde passa a maior parte do petróleo consumido no ocidente, fornecido por monarquias árabes corruptas e subservientes ao imperialismo e ao sionismo.
O “jornalismo” da Globo tenta induzir a opinião pública mundial a apoiar qualquer tipo de ação criminosa por parte dos EUA ou da Otan contra o Irã, para favorecer a política belicista e imperialista dos EUA e racista de Israel.
A imprensa brasileira, na sua maioria, contrata agências de notícias norte-americanas para divulgar informações de países estrangeiros. Ora, as agências de notícias norte-americanas são financiadas pelo governo norte-americano justamente para mentir e enganar a opinião pública mundial. Portanto, a imprensa brasileira compra mentiras e divulga mentiras sendo, portanto, cúmplice de crimes de guerra e de crimes contra a humanidade.
Os proprietários dos grandes meios de comunicação do Brasil deveriam ser levados às cortes internacionais por associação a crimes de lesa humanidade, por justificar - por exemplo - a guerra ao Iraque, Afeganistão, Líbia, e agora por apoiar guerras na Síria e Irã.
Esse conglomerado de empresas que fabricam notícias tendenciosas, que se diz “imprensa livre”, não publica uma palavra sobre os crimes do governo norte-americano na Guerra da Coréia (onde os norte-americanos assassinaram 1 em cada 3 coreanos em 1950, dizimando 1/3 da população daquele país, onde seguem fazendo chantagens e ameaças atômicas, dividindo o país em fazendo da Coréia do Sul um depósito de armas e bombas atômicas). Nada sobre o assassinato pelos EUA e Otan de mais de 200 mil pessoas na Líbia. Essa pretensa mídia comercial não publica uma palavra sobre as bombas atômicas norte-americanas e suas 965 bases militares construídas para dominar o mundo. Nenhuma palavra sobre as armas químicas e biológicas atualmente desenvolvidas em laboratórios norte-americanos para serem usadas como armas de destruição em massa.
Os ataques diários da mídia ocidental à República Islâmica do Irã tem o único objetivo de incentivar e estimular uma nova guerra para favorecer os interesses mercantilistas de investidores norte-americanos e israelenses (judeus sionistas), detentores da maioria das ações das indústrias bélicas e petrolíferas na Bolsa de Valores de Nova Iorque.
O roqueiro Raul Seixas tinha razão: “Mamãe não quero ler jornais: mentir sozinho eu sou capaz”.