domingo, 22 de janeiro de 2012

China dá o primeiro passo para reciclar os petrodólares


Bhadrakumar, Indian Punchline

O acordo de troca de moedas assinado entre China e Emirados Árabes Unidos (EAU) durante a viagem do premiê Wen Jiabao pela região do Golfo Persa, que termina hoje, provocará incômodo nas capitais ocidentais, especialmente em Londres e Washington. A lista de países com os quais a China já tem esse tipo de acordo vai aumentando lenta e continuadamente, e esse é o primeiro desses acordos assinado com estado do Conselho de Cooperação do Golfo (CCG).

O acordo com os EAU cobre $5,5 bilhões – o comércio bilateral no ano passado, com as exportações chinesas responsáveis por 2/3, alcançou $36 bilhões – e visa a “fortalecer a cooperação financeira bilateral, promovendo o comércio e os investimentos e, simultaneamente, salvaguarda a estabilidade financeira regional” – segundo o Banco Central da China. A China está, essencialmente, fornecendo ‘seed money’ [lit. ‘dinheiro semente’], para que os comerciantes não precisem converter ao dólar todas as transações, o que reduz os custos de câmbio.

À primeira vista, o critério é da conveniência, mas evidentemente lança sombras sobre vários outros campos. Bem visivelmente, a China está tratando de ‘sensibilizar’ o Oriente Médio, em relação à função do renminbi[1]. Estar guardado como moeda de reserva nos cofres dos Emirados Árabes Unidos aumenta o prestígio do renminbi. Quanto aos Emirados Árabes Unidos, ter o poderoso yuan em suas reservas é a medida mais segura que jamais tomaram no mundo da alta finança, dado que a valorização da moeda chinesa é evento praticamente garantido para o futuro.

Além disso, a troca de moedas chama a atenção para o rápido crescimento dos laços econômicos da China com a região do CCG. É uma declaração política de que a China trabalha para ampliar seus laços com os Emirados Árabes Unidos que, até agora, historicamente, sempre viveram como ‘bolsão’ dos britânicos no Oriente Médio. Dos dhows[2], ouvem-se os gritos ‘Yo, ho, os chineses estão chegando!’

Mas estão chegando também com propósito bem claro. Abu Dhabi controla 7% das reservas comprovadas de petróleo do mundo, o preço do barril já está ultrapassando os $100, os EAU estarão renovando suas concessões de petróleo em 2014, e, então, as empresas chinesas com certeza estarão posicionadas para dar trabalho, na disputa pelas concessões, à Royal Dutch Shell, à ExxonMobil e à Total francesa. Claro, os EAU são mercado difícil, no qual a cultura de negócios ocidental está profundamente enraizada, mas... nunca subestimem os chineses.

Acima de tudo, a China dá seus primeiros passos no mundo embriagador da reciclagem de petrodólares, e é difícil imaginar que Pequim não saiba o que está fazendo agora, nessa troca de moedas com os Emirados Árabes Unidos. A China é país milenar e sabe muito bem que qualquer longa marcha começa num pequeno primeiro passo.

O xis da questão é que as moedas dos países do Conselho de Cooperação do Golfo são aderidas ao papel verde, e seus massivos lucros são em grande parte encaminhados para os cofres dos bancos de Londres ou New York, ou são usadas para comprar ações e bônus do Tesouro dos EUA – e, isso, quando não são usadas para comprar armas ou noutros gastos extravagantes.

O negócio agora assinado entre China e Emirados Árabes Unidos meteu um pensamento muito excitante na cabeça dos estados do CCG: a possibilidade de faturar em renminbis – que muito preocupará o ocidente. Atualmente, ninguém precisará perder o sono, porque Pequim restringe rigidamente os fluxos de sua moeda fora das fronteiras chinesas, mas não há dúvidas de que a China já está implantando toda a infraestrutura indispensável para uma era, não muito distante, quando poderá dar adeus às estritas restrições hoje vigentes para o fluxo de moedas, se se interessar por usar o renminbi no comércio internacional. É possível que em 2025 a China esteja importando três vezes mais petróleo dos países do CCG, do que Tio Sam.

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[1] Renminbi [lit. “moeda do povo”] é o nome oficial da moeda oficial da China, introduzida pelo Partido Comunista da República Popular da China, na fundação, em 1949. Também chamado “yuan” (abr. RMB; símbolo ¥; código CNY, CN¥, 元 e CN元 (http://www.chinadaily.com.cn/business/2006-09/29/content_699307.htm) [NTs].
[2] Embarcação mercante tradicional na região (ver em http://en.wikipedia.org/wiki/Dhow) [NTs].

Tradução: Vila Vudu

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