Ameaça de atacar Irã é blefe bastante arriscado com conseqüências catastróficas para o mundo, e não somente para Israel.
Por Gianni Carta
O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu se revela um péssimo estrategista ao ameaçar um ataque contra o Irã. A intimidação, por conta do desenvolvimento de armas atômicas naquele país, também demonstra o elevado grau de irracionalidade do premier. Isso porque a ameaça é, na verdade, um blefe bastante arriscado – e com consequências catastróficas para o mundo, e não somente para Israel.
O que Netanyahu almeja é angariar o apoio da comunidade internacional. De fato, após a AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica) ter publicado um relatório no qual diz ter “sérias preocupações com as possíveis dimensões militares do programa nuclear do Irã”, Netanyahu e outras autoridades israelenses arrefeceram a retórica bélica.
E assim confirmaram que a ameaça não passa de um perigoso blefe.
Outros irracionais como o ministro das Relações Exteriores, Avigdor Lieberman, ao lado do qual o falcão Netanyahu vira uma pequena pomba, estressou a necessidade de novas “sanções paralisantes contra o Irã”. Em miúdos, Lieberman e Netanyahu, entre outros, buscam o apoio do Conselho de Segurança da Onu e da chamada comunidade internacional. No entanto, Lieberman emendou: “A opção militar é a última possível e a pior, mas ela tem de continuar sobre a mesa e pronta para ser colocada em prática”.
Aí mora o problema.
E se a China e a Rússia, como é esperado desses dois membros permanentes do Conselho de Segurança, vetassem novas sanções contra Teerã? Israel teria então de atacar o Irã. Caso contrário perderia sua credibilidade no Oriente Médio e mundo afora.
Um ataque contra o Irã seria, não resta a menor sombra de dúvida, uma missão suicida. Na quarta-feira 9, o general Massud Jazyeri, chefe do estado maior das forças iranianas contra-atacou: o Irã, em caso de ataque às suas instalações militares, “destruirá” Israel.
Pior: a resposta iraniana “não se limitará ao Oriente Médio”. O motivo? Simples: as autoridades consideram que Israel está agindo em sintonia com os Estados Unidos. E, claro, não é preciso ser especialista em Oriente Médio para deduzir que Barack Obama, como todos presidentes norte-americanos desde a criação em 1948 de Israel, agem em uníssono com o estado israelense.
Obama, impotente no seu país e globo afora, está tão desnorteado quanto Netanyahu cercado por revoltas nos países vizinhos. Por isso, vale especular, ele é conivente com a falta de lógica, ou de irracionalidade, por parte do governo israelense. Novos assentamentos israelenses continuam a pipocar em terras palestinas; Israel se engajou em uma nova queda-de-braço com a Autoridade Palestina. Onde está a lógica de comprar briga com a Turquia? E por ai vai.
Nesse quadro negro, Netanyahu não é o único a padecer de falta de racionalidade. A nova onda começou com o presidente Shimon Peres, outrora um político aparentemente capaz. No domingo 6, Peres declarou: “A possibilidade de um ataque militar contra o Irã está mais próxima do que uma opção diplomática”.
Esse cenário de irracionalismo se estende ao povo. Numerosos israelenses sabem que um ataque contra Israel será o início de um conflito global.
E, no entanto, a maioria dos israelenses daria sinal verde a um ataque contra o Irã.
Segundo o cientista político iraniano Hesam Houryaband, “o discurso de Ahmadinejad de destruir Israel não reflete a política exterior do país”. O Irã, me disse Houryaband, ‘’quer armas nucleares para proteger seu regime”. A razão? Teerã viu a invasão do Iraque, da Líbia. “Qual será o próximo da lista?” Ninguém atacará a Coréia do Norte e o Paquistão, ambos com programas nucleares avançados. E Israel, vale estressar, também é uma potencia atômica, embora jamais tenha confirmado ou desmentido dispor de um arsenal nuclear.
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