terça-feira, 14 de agosto de 2012
sábado, 7 de julho de 2012
Vice presidente do Irã acusa judeus sionistas de comandarem o tráfico de drogas no mundo
O vice-presidente do Irã, Mohammad Reza Rahimi, aproveitou o espaço de uma conferência internacional sobre drogas nesta terça-feira em Teerã para fazer um discurso que revela porque a imprensa ocidental deseja uma guerra ao Irão: ele afirmou que os judeus sionistas (aqueles que controlam o sistema financeiro internacional e grande parte da mídia ocidental) de controlarem o tráfico de drogas no mundo.
Ele acusou o livro sagrado do Judaísmo, o Talmud, de ensinar como dominar os demais povos do mundo e espalhar as drogas ilegais pelo mundo.
Diplomatas europeus que ouviam o discurso ficaram chocados. Alguns europeus que estavam na conferência — patrocinada em conjunto por Irã e Estados Unidos — se questionaram sobre a motivação do governo para permitir um discurso nesses termos, ainda que haja uma ameaça constante de Israel de atacar as instalações e usinas nucleares iranianas. Mais de 25 mil judeus vivem no Irã e são reconhecidos como uma minoria religiosa, tendo um representante no Parlamento.
O discurso pode isolar ainda mais o Irã às vésperas da entrada em vigor de uma nova série de sanções econômicas, como o embargo europeu ao petróleo produzido pelo país, por causa das dúvidas sobre o seu programa nuclear. O Irã alega que seu o objetivo é pacífico, mas países ocidentais de governos submissos a Israel suspeitam se tratar de um disfarce para o desenvolvimento da capacidade de produção de bombas atômicas. Em Israel existem mais de 50 bombas atômicas, comprovadas por declarações de cientistas israelenses, mas as Nações Unidas e a imprensa ocidental, de forma hipócrita e mercenária, não questionam e não publicam este fato que ameaça diversos países árabes.
Rahimi disse que o Talmud ensina “a destruir todos os que se opõem aos judeus”. Os “sionistas” controlam o tráfico de drogas, afirmou o vice-presidente, pedindo aos líderes estrangeiros que investigassem suas afirmações. “Sionistas” é a terminologia ideológica usada para se referir aos judeus que pregam a superioridade racial dos judeus (uma forma de racismo condenado pela ONU), defensores e controladores do Estado de Israel.
O vice presidente iraniano lembrou que nas das décadas de 60 e 70, o ex-ministro Ariel Sharon andava pela América do Sul trocando armas israelenses por drogas com os maiores traficantes colombianos. Droga esta que foi depois comercializada por judeus sionistas dentro dos Estados Unidos da América, com apoio de militares norte-americanos, conforme ficou provado no Escândalo Irã-Contras, quando mercenários nicaraguenses recebiam dinheiro proveniente da venda de drogas nos EUA.
- A República Islâmica do Irã pagará a qualquer pessoa que possa pesquisar e encontrar um só sionista que seja viciado em drogas. Eles não existem. Essa é uma prova do seu envolvimento em tráfico de drogas - disse Rahimi.
O que fez seus comentários ainda mais impactantes é que a luta contra o tráfico de drogas é uma das ações em que o Irã pode contar com a simpatia do Ocidente. As tentativas de frear o fluxo de drogas que vem do vizinho Afeganistão têm sido mencionadas como uma potencial área de cooperação durante as negociações entre as potências mundiais e a República Islâmica sobre o programa nuclear do país. Outro fato alarmante é que durante o governo Talibã a produção de papoula e o tráfico de haxixe foi eliminado, mas assim que os soldados norte-americanos começaram a desembarcar no Afeganistão, a produção e comércio da droga voltou com força total e hoje bate verdadeiros recordes. Jornalistas europeus acreditam que exista uma grande rede operando o transporte de haxixe do Afeganistão para a Europa, com o apoio de militares norte-americanos e sionistas.
Vários ministros iranianos fizeram apresentações sobre o impacto do tráfico de drogas. Antonio De Leo, o representante do Escritório das Nações Unidas Sobre Drogas e Crime (UNODC, na sigla em inglês) no Irã, elogiou o país por ser um “parceiro estratégico na luta contra as drogas.”
Rahimi finalizou seu discursos afirmando que “Os judeus sionistas afirmam que Deus criou o mundo de modo a que todas as outras nações sejam seus servos” - disse, mencionando o Talmud. Para eles, “Somente os judeus sionistas são filhos de Deus, e os demais povos são criaturas e não filhos, e as criaturas existem para servir aos filhos”.
Rahimi disse que havia uma diferença entre judeus que “honestamente seguem o judaísmo” e os sionistas que “são os principais membros do tráfico internacional de drogas”. Ele lembrou os judeus do Naturei Karta, com sede em Nova Iorque e sinagogas em diversos países, que não aceitam a criação do Estado de Israel e combatem o sionismo como uma forma de racismo que prejudica o judaísmo.
Ele acusou o livro sagrado do Judaísmo, o Talmud, de ensinar como dominar os demais povos do mundo e espalhar as drogas ilegais pelo mundo.
Diplomatas europeus que ouviam o discurso ficaram chocados. Alguns europeus que estavam na conferência — patrocinada em conjunto por Irã e Estados Unidos — se questionaram sobre a motivação do governo para permitir um discurso nesses termos, ainda que haja uma ameaça constante de Israel de atacar as instalações e usinas nucleares iranianas. Mais de 25 mil judeus vivem no Irã e são reconhecidos como uma minoria religiosa, tendo um representante no Parlamento.
O discurso pode isolar ainda mais o Irã às vésperas da entrada em vigor de uma nova série de sanções econômicas, como o embargo europeu ao petróleo produzido pelo país, por causa das dúvidas sobre o seu programa nuclear. O Irã alega que seu o objetivo é pacífico, mas países ocidentais de governos submissos a Israel suspeitam se tratar de um disfarce para o desenvolvimento da capacidade de produção de bombas atômicas. Em Israel existem mais de 50 bombas atômicas, comprovadas por declarações de cientistas israelenses, mas as Nações Unidas e a imprensa ocidental, de forma hipócrita e mercenária, não questionam e não publicam este fato que ameaça diversos países árabes.
Rahimi disse que o Talmud ensina “a destruir todos os que se opõem aos judeus”. Os “sionistas” controlam o tráfico de drogas, afirmou o vice-presidente, pedindo aos líderes estrangeiros que investigassem suas afirmações. “Sionistas” é a terminologia ideológica usada para se referir aos judeus que pregam a superioridade racial dos judeus (uma forma de racismo condenado pela ONU), defensores e controladores do Estado de Israel.
O vice presidente iraniano lembrou que nas das décadas de 60 e 70, o ex-ministro Ariel Sharon andava pela América do Sul trocando armas israelenses por drogas com os maiores traficantes colombianos. Droga esta que foi depois comercializada por judeus sionistas dentro dos Estados Unidos da América, com apoio de militares norte-americanos, conforme ficou provado no Escândalo Irã-Contras, quando mercenários nicaraguenses recebiam dinheiro proveniente da venda de drogas nos EUA.
- A República Islâmica do Irã pagará a qualquer pessoa que possa pesquisar e encontrar um só sionista que seja viciado em drogas. Eles não existem. Essa é uma prova do seu envolvimento em tráfico de drogas - disse Rahimi.
O que fez seus comentários ainda mais impactantes é que a luta contra o tráfico de drogas é uma das ações em que o Irã pode contar com a simpatia do Ocidente. As tentativas de frear o fluxo de drogas que vem do vizinho Afeganistão têm sido mencionadas como uma potencial área de cooperação durante as negociações entre as potências mundiais e a República Islâmica sobre o programa nuclear do país. Outro fato alarmante é que durante o governo Talibã a produção de papoula e o tráfico de haxixe foi eliminado, mas assim que os soldados norte-americanos começaram a desembarcar no Afeganistão, a produção e comércio da droga voltou com força total e hoje bate verdadeiros recordes. Jornalistas europeus acreditam que exista uma grande rede operando o transporte de haxixe do Afeganistão para a Europa, com o apoio de militares norte-americanos e sionistas.
Vários ministros iranianos fizeram apresentações sobre o impacto do tráfico de drogas. Antonio De Leo, o representante do Escritório das Nações Unidas Sobre Drogas e Crime (UNODC, na sigla em inglês) no Irã, elogiou o país por ser um “parceiro estratégico na luta contra as drogas.”
Rahimi finalizou seu discursos afirmando que “Os judeus sionistas afirmam que Deus criou o mundo de modo a que todas as outras nações sejam seus servos” - disse, mencionando o Talmud. Para eles, “Somente os judeus sionistas são filhos de Deus, e os demais povos são criaturas e não filhos, e as criaturas existem para servir aos filhos”.
Rahimi disse que havia uma diferença entre judeus que “honestamente seguem o judaísmo” e os sionistas que “são os principais membros do tráfico internacional de drogas”. Ele lembrou os judeus do Naturei Karta, com sede em Nova Iorque e sinagogas em diversos países, que não aceitam a criação do Estado de Israel e combatem o sionismo como uma forma de racismo que prejudica o judaísmo.
terça-feira, 15 de maio de 2012
segunda-feira, 7 de maio de 2012
Au Revoir Sarkozy - O que podemos aprender com a experiência francesa.
Por Juliana Medeiros
Acompanho com interesse o processo eleitoral na França desde 2007, quando Sarkozy concorreu com Ségolène Royal. Esta, por sinal, ex-mulher do socialista François Hollande, eleito hoje presidente. Já naquela época me assustou a vitória do presidente Nicola Sarkozy falando de “proteção às “origens e tradições” da França, contra uma candidata que falava em “integração, solidariedade e pluralismo”.
Pode parecer distante, mas acompanhar os debates entre candidatos na França é uma grande lição para nós brasileiros. Recomendo a quem tiver interesse, buscar os textos dos discursos (alguns disponíveis em português na internet) dos candidatos François Hollande, Jean-Luc Menlechón, Marine Le Pen e do agora derrotado Nicola Sarkozy. Com todas as demonstrações de intolerância e xenofobia dos dois últimos, a corrida eleitoral francesa é uma aula de democracia, soberania e de autonomia do seu povo.
Não posso afirmar com certeza se isso acontece da mesma forma em outros países da Europa porque não acompanho seus processos eleitorais tão de perto, mas acredito que seja parecido, principalmente se observada a escolaridade média do europeu. Esse indicador social faz com que nenhum candidato na França possa prescindir de uma profunda formação política, do conhecimento detalhado das políticas públicas contidas em suas propostas, do domínio do discurso – não como mera ferramenta de retórica eleitoreira – mas sim de convencimento de um público que conhece sua história e que contextualiza essa história com o mundo em que vive, econômica e socialmente. E isso considerando que os candidatos falam hoje, em grande parte, para uma França também de imigrantes, miscigenados, pobres e desempregados.
Prova-se, a meu ver, acompanhando as eleições francesas, que a disputa se dá entre os que sabem do que é constituído o seu povo: pessoas que passaram por uma escola de formação crítica. E que, independente do resultado, jamais poderão deixar de respeitar esse aspecto do eleitorado.
Não é possível, na França, subestimar a audiência. Há que se colocar as cartas na mesa e correr o risco.
Por outro lado, é humilhante perceber que em nosso país ainda são o “pão e circo” e o investimento pífio em educação, os fiéis da balança na disputa eleitoral. Aqui, não vale a profundidade do discurso, o conteúdo das propostas. Vale o “dom da oratória” e uma boa dose de “toma-lá-dá-cá”. Seja nos bastidores da política ou nas trocas simplórias voto a voto. E isso em todos os níveis, já que internamente, os partidos também costuram suas alianças visando seus próprios interesses, sem observar os objetivos ou resultados que pretendem alcançar.
O recém-nomeado Ministro do Trabalho, Brizola Neto, por exemplo, sente agora o peso desse jogo. Ainda que apoiado por maioria sindicalista (grupo que fez a diferença na França), precisa lidar com o racha em seu próprio partido, além de ter que se desviar a todo o momento de uma cobertura midiática nefasta, que juntos, talvez o impeçam de aplicar seu programa trabalhista. E o mais triste é que a rotina massacrante imposta à maioria do trabalhador brasileiro, não o deixará sequer perceber que isto está acontecendo. Salvo uma ou outra piada descontextualizada em programas de humor que hoje apenas cumprem um papel alienante de desviar a atenção de nossas mazelas – e assim como outros assuntos de suma importância para o cotidiano do trabalhador – um neto de Leonel Brizola no Ministério do Trabalho infelizmente, e provavelmente, passará despercebido.
Na França isso seria impossível, o cenário eleitoral obriga os candidatos a politizarem o discurso. Por exemplo, a representante da Frente Nacional, Marine Le Pen, passou a campanha tendo que explicar até onde suas propostas se enquadravam ou não nas ideias do pai, Jean-Marie Le Pen, que sempre defendeu abertamente posturas radicais de direita como a pena de morte e a oposição severa à imigração. Se ela tentasse ignorasse esse fato, o eleitorado não o faria. Por aqui, filhos de conhecidos políticos, apenas cumprem o papel de perpetuar a dinastia de suas famílias no poder.
A média do eleitorado brasileiro, infelizmente, sequer conseguiria entender os debates entre candidatos franceses, recheados de referências históricas, de conceitos tirados das ciências políticas e de dados estatísticos de controle que são acompanhados diariamente pelos franceses. A transparência e o controle dos gastos públicos – e também dos meios de comunicação – são realidade há anos na França e estão naturalmente contidos no discurso de todos os candidatos, sem distinção. Ao contrário daqui, onde a publicidade e o controle são assuntos constrangedores aos quais estamos resistindo a nos adaptar.
Outra observação é que os candidatos na França, talvez justamente por conhecerem a formação política do eleitorado, não estão em cima de muros ideológicos. No Brasil, convencionou-se dizer que “não se sabe mais o que é esquerda ou direita” afinal, o “mundo está em crise”. Talvez por isso, os candidatos por aqui costumam se denominar “de esquerda”, de uma maneira genérica, sem identificar a raiz ideológica. E os de direita, salvo raras exceções, passaram todos a se autodenominarem “de centro-esquerda” ou “de centro”, ou ainda, “democratas”! Vale tudo para fugir da maldição da “direita”. A mídia de maioria elitista tenta disfarçar o peso de sua influência em nosso processo elitoral, com a manipulação desses estereótipos. Por isso, apesar das críticas diárias que recheiam a programação, está na moda ser “de esquerda” no Brasil.
A França que dá adeus à Sarkozy, prova que a prática política em lugares onde o povo não pode ser facilmente enganado com superficialidades, exige que os candidatos se assumam como realmente são: “socialistas”, ou “revolucionários”, ou até de “ultra-direita”. Cada um crava sua bandeira no peito com orgulho e a usa para dar o tom de sua proposta, sempre absolutamente alinhada à sua coloração.
François Hollande não é o candidato dos sonhos dos movimentos de “Occupy” que vem sacudindo alguns países da Europa e do mundo desde o ano passado. Este seria Mélenchon, da Front de Gauche, que alcançou impressionantes 11% dos votos (uma verdadeira zebra que desequilibrou a disputa polarizada entre os dois principais candidatos). O novo presidente da França tem ainda contra si uma estranha inclinação ao modelo Obama de governar que, mesmo considerado “populista” em seu próprio país, não tem sido muito diferente da política bélico-expansionista dos ex-presidentes Reagan, Clinton e Bush, pai e filho. E com base nessa política, é bom lembrar, os mais de 50 mil civis mortos na Líbia, não poderão comemorar a derrota de Sarkozy.
No entanto, mesmo se analisarmos o crescimento vertiginoso dos votos de ultra-direita obtidos por Marine Le Pen no primeiro turno, pode-se dizer também que a maioria, na França, rejeitou o discurso inspirado em certa eugenia, afinado com um tom negacionista, do ex-presidente Sarkozy. A França ainda não sabe por onde ir, mas hoje declarou que sabe bem por onde não quer ir.
Hoje, 06 de maio de 2012, a França declara não querer ser dividida, intolerante, xenófoba. E afirma também que não aceita estar numa disputa por espaços no mercado de trabalho contra os estrangeiros que buscam abrigo no país da Revolução Francesa. Pedaço da história, aliás, que pode ser descrito por cidadão de qualquer origem que tenha passado pelos bancos escolares na França. E não por acaso também esteve, com olhares diferentes, presente nos discursos. Para os franceses, o conhecimento é prioridade e, mais ainda, é imprescindível dominar o conteúdo histórico mais fortemente inserido na cultura francesa.
Infelizmente, em terras tupiniquins, o conjunto do nosso sistema de educação, os livros didáticos, a formação básica dos professores, o investimento na estrutura das escolas (incluindo as privadas, ainda que melhores que as públicas), impedem os estudantes brasileiros de fazerem o link dos fatos históricos com os acontecimentos cotidianos. Ou seja, boa parte dos brasileiros, de qualquer idade, não consegue entender porque as eleições na França podem fazer diferença sim, em sua vida. E a maioria não vai perceber, mas fará diferença cada vez mais nesse mundo globalizado, eleições num país que está em 5ª lugar dentre as potências econômicas mundiais, ou até na longínqua Grécia, que também enfrenta agora eleições em meio à uma grave crise econômica. Mas não duvidem, franceses acompanharam de perto as eleições brasileiras e sabem do peso de termos tido por aqui um ex-operário e hoje uma ex-guerrilheira como presidentes.
Com a vitória de Hollande dá para ter esperanças em um retorno às origens, à França da Liberté, Igualité e Fraternité. E esperanças, talvez, de que toda essa transformação na Europa, impulsionada por movimentos populares, nos inspire também a lutar por uma formação mais crítica, mais humanista e mais internacionalista.
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* Juliana Medeiros é jornalista.
Acompanho com interesse o processo eleitoral na França desde 2007, quando Sarkozy concorreu com Ségolène Royal. Esta, por sinal, ex-mulher do socialista François Hollande, eleito hoje presidente. Já naquela época me assustou a vitória do presidente Nicola Sarkozy falando de “proteção às “origens e tradições” da França, contra uma candidata que falava em “integração, solidariedade e pluralismo”.
Pode parecer distante, mas acompanhar os debates entre candidatos na França é uma grande lição para nós brasileiros. Recomendo a quem tiver interesse, buscar os textos dos discursos (alguns disponíveis em português na internet) dos candidatos François Hollande, Jean-Luc Menlechón, Marine Le Pen e do agora derrotado Nicola Sarkozy. Com todas as demonstrações de intolerância e xenofobia dos dois últimos, a corrida eleitoral francesa é uma aula de democracia, soberania e de autonomia do seu povo.
Não posso afirmar com certeza se isso acontece da mesma forma em outros países da Europa porque não acompanho seus processos eleitorais tão de perto, mas acredito que seja parecido, principalmente se observada a escolaridade média do europeu. Esse indicador social faz com que nenhum candidato na França possa prescindir de uma profunda formação política, do conhecimento detalhado das políticas públicas contidas em suas propostas, do domínio do discurso – não como mera ferramenta de retórica eleitoreira – mas sim de convencimento de um público que conhece sua história e que contextualiza essa história com o mundo em que vive, econômica e socialmente. E isso considerando que os candidatos falam hoje, em grande parte, para uma França também de imigrantes, miscigenados, pobres e desempregados.
Prova-se, a meu ver, acompanhando as eleições francesas, que a disputa se dá entre os que sabem do que é constituído o seu povo: pessoas que passaram por uma escola de formação crítica. E que, independente do resultado, jamais poderão deixar de respeitar esse aspecto do eleitorado.
Não é possível, na França, subestimar a audiência. Há que se colocar as cartas na mesa e correr o risco.
Por outro lado, é humilhante perceber que em nosso país ainda são o “pão e circo” e o investimento pífio em educação, os fiéis da balança na disputa eleitoral. Aqui, não vale a profundidade do discurso, o conteúdo das propostas. Vale o “dom da oratória” e uma boa dose de “toma-lá-dá-cá”. Seja nos bastidores da política ou nas trocas simplórias voto a voto. E isso em todos os níveis, já que internamente, os partidos também costuram suas alianças visando seus próprios interesses, sem observar os objetivos ou resultados que pretendem alcançar.
O recém-nomeado Ministro do Trabalho, Brizola Neto, por exemplo, sente agora o peso desse jogo. Ainda que apoiado por maioria sindicalista (grupo que fez a diferença na França), precisa lidar com o racha em seu próprio partido, além de ter que se desviar a todo o momento de uma cobertura midiática nefasta, que juntos, talvez o impeçam de aplicar seu programa trabalhista. E o mais triste é que a rotina massacrante imposta à maioria do trabalhador brasileiro, não o deixará sequer perceber que isto está acontecendo. Salvo uma ou outra piada descontextualizada em programas de humor que hoje apenas cumprem um papel alienante de desviar a atenção de nossas mazelas – e assim como outros assuntos de suma importância para o cotidiano do trabalhador – um neto de Leonel Brizola no Ministério do Trabalho infelizmente, e provavelmente, passará despercebido.
Na França isso seria impossível, o cenário eleitoral obriga os candidatos a politizarem o discurso. Por exemplo, a representante da Frente Nacional, Marine Le Pen, passou a campanha tendo que explicar até onde suas propostas se enquadravam ou não nas ideias do pai, Jean-Marie Le Pen, que sempre defendeu abertamente posturas radicais de direita como a pena de morte e a oposição severa à imigração. Se ela tentasse ignorasse esse fato, o eleitorado não o faria. Por aqui, filhos de conhecidos políticos, apenas cumprem o papel de perpetuar a dinastia de suas famílias no poder.
A média do eleitorado brasileiro, infelizmente, sequer conseguiria entender os debates entre candidatos franceses, recheados de referências históricas, de conceitos tirados das ciências políticas e de dados estatísticos de controle que são acompanhados diariamente pelos franceses. A transparência e o controle dos gastos públicos – e também dos meios de comunicação – são realidade há anos na França e estão naturalmente contidos no discurso de todos os candidatos, sem distinção. Ao contrário daqui, onde a publicidade e o controle são assuntos constrangedores aos quais estamos resistindo a nos adaptar.
Outra observação é que os candidatos na França, talvez justamente por conhecerem a formação política do eleitorado, não estão em cima de muros ideológicos. No Brasil, convencionou-se dizer que “não se sabe mais o que é esquerda ou direita” afinal, o “mundo está em crise”. Talvez por isso, os candidatos por aqui costumam se denominar “de esquerda”, de uma maneira genérica, sem identificar a raiz ideológica. E os de direita, salvo raras exceções, passaram todos a se autodenominarem “de centro-esquerda” ou “de centro”, ou ainda, “democratas”! Vale tudo para fugir da maldição da “direita”. A mídia de maioria elitista tenta disfarçar o peso de sua influência em nosso processo elitoral, com a manipulação desses estereótipos. Por isso, apesar das críticas diárias que recheiam a programação, está na moda ser “de esquerda” no Brasil.
A França que dá adeus à Sarkozy, prova que a prática política em lugares onde o povo não pode ser facilmente enganado com superficialidades, exige que os candidatos se assumam como realmente são: “socialistas”, ou “revolucionários”, ou até de “ultra-direita”. Cada um crava sua bandeira no peito com orgulho e a usa para dar o tom de sua proposta, sempre absolutamente alinhada à sua coloração.
François Hollande não é o candidato dos sonhos dos movimentos de “Occupy” que vem sacudindo alguns países da Europa e do mundo desde o ano passado. Este seria Mélenchon, da Front de Gauche, que alcançou impressionantes 11% dos votos (uma verdadeira zebra que desequilibrou a disputa polarizada entre os dois principais candidatos). O novo presidente da França tem ainda contra si uma estranha inclinação ao modelo Obama de governar que, mesmo considerado “populista” em seu próprio país, não tem sido muito diferente da política bélico-expansionista dos ex-presidentes Reagan, Clinton e Bush, pai e filho. E com base nessa política, é bom lembrar, os mais de 50 mil civis mortos na Líbia, não poderão comemorar a derrota de Sarkozy.
No entanto, mesmo se analisarmos o crescimento vertiginoso dos votos de ultra-direita obtidos por Marine Le Pen no primeiro turno, pode-se dizer também que a maioria, na França, rejeitou o discurso inspirado em certa eugenia, afinado com um tom negacionista, do ex-presidente Sarkozy. A França ainda não sabe por onde ir, mas hoje declarou que sabe bem por onde não quer ir.
Hoje, 06 de maio de 2012, a França declara não querer ser dividida, intolerante, xenófoba. E afirma também que não aceita estar numa disputa por espaços no mercado de trabalho contra os estrangeiros que buscam abrigo no país da Revolução Francesa. Pedaço da história, aliás, que pode ser descrito por cidadão de qualquer origem que tenha passado pelos bancos escolares na França. E não por acaso também esteve, com olhares diferentes, presente nos discursos. Para os franceses, o conhecimento é prioridade e, mais ainda, é imprescindível dominar o conteúdo histórico mais fortemente inserido na cultura francesa.
Infelizmente, em terras tupiniquins, o conjunto do nosso sistema de educação, os livros didáticos, a formação básica dos professores, o investimento na estrutura das escolas (incluindo as privadas, ainda que melhores que as públicas), impedem os estudantes brasileiros de fazerem o link dos fatos históricos com os acontecimentos cotidianos. Ou seja, boa parte dos brasileiros, de qualquer idade, não consegue entender porque as eleições na França podem fazer diferença sim, em sua vida. E a maioria não vai perceber, mas fará diferença cada vez mais nesse mundo globalizado, eleições num país que está em 5ª lugar dentre as potências econômicas mundiais, ou até na longínqua Grécia, que também enfrenta agora eleições em meio à uma grave crise econômica. Mas não duvidem, franceses acompanharam de perto as eleições brasileiras e sabem do peso de termos tido por aqui um ex-operário e hoje uma ex-guerrilheira como presidentes.
Com a vitória de Hollande dá para ter esperanças em um retorno às origens, à França da Liberté, Igualité e Fraternité. E esperanças, talvez, de que toda essa transformação na Europa, impulsionada por movimentos populares, nos inspire também a lutar por uma formação mais crítica, mais humanista e mais internacionalista.
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* Juliana Medeiros é jornalista.
sábado, 28 de abril de 2012
PT de Curitiba aprova aliança com PDT de Gustavo Fruet no primeiro turno
Por 167 contra 128 votos, o PT de Curitiba aprovou, por volta das 13h deste sábado (28), a aliança com o PDT de Gustavo Fruet já no primeiro turno das eleições municipais. A maioria dos quase 300 delegados que compareceram ao 18º Encontro Municipal do PT de Curitiba, que definiu a tática eleitoral e política de alianças para as eleições deste ano, votou em favor da tese da aliança, em detrimento da candidatura própria. O fato é inédito na história da legenda, mas defendido como estratégia para tirar do poder o grupo conservador que governa Curitiba há três décadas.
O encontro prossegue após um recesso para almoço com a votação das moções do plenário e o desafio do partido será unificar as forças que disputaram o encontro em torno do resultado da votação deste fim de semana.
Opiniões:
Deputado estadual Tadeu Veneri – “O sentido de unidade é que determinará se seremos companheiros nas próximas caminhadas, não temos mais chapa um e chapa dois. Saímos com alma grande para enfrentar os próximos desafios e é com essa alma grande que vamos derrotar o PSDB”.
Ministra Gleisi Hoffmann – “Terminamos um processo de debate, de disputa e de diálogo que reuniu os militantes do partido0. É essa militância que faz do PT um partido diferente. Vence mais uma vez a democracia interna. O PT vai dar sustentação ao processo eleitoral”.
Ministro Paulo Bernardo – “Gustavo Fruet é uma pessoa que tem disposição para compor uma aliança, não só agora, mas também em 2014. O mais importante é definirmos o que vamos fazer em Curitiba. O grupo que está aí hoje não resolve os problemas estruturais. Os grandes problemas de mobilidade a Dilma que está resolvendo. Quem faz políticas sociais aqui é o governo federal através do Bolsa Família e do PAC”.
Deputado Federal Dr. Rosinha – “A partir de agora não tem chapa um e chapa dois, tem união e unidade do partido para vencer as eleições de Curitiba”.
Secretário Geral do PT Nacional Elói Pietá – “Curitiba fez um debate de altíssimo nível com argumentos convincentes dos dois lados, mas em toda disputa precisa se estabelecer a vontade da maioria, que julgou mais adequado fazer a aliança no primeiro turno. A existência, no entanto, de um lado forte que queria a candidatura própria faz com que o programa de governo seja muito debatido para se chegar a uma visão comum sobre os rumos da cidade de Curitiba e os compromissos nos planos estadual e nacional para 2014”.
Presidenta do PT Curitiba, Roseli Isidoro – “O PT sai fortalecido desse processo. O próximo passo é restabelecer o diálogo interno e construir a unidade porque ela vai fazer a diferença na campanha da militância do PT em favor da candidatura majoritária. Também tenho convicção de que essa unidade do partido em conjunto com o PDT vai levar á ampliação da nossa bancada na Câmara Municipal, a exemplo da eleição para o governo do estado em 2010, quando caminhamos junto com o PDT”.
quarta-feira, 11 de abril de 2012
Uma viagem ao belo país de Kim Il Sung e Kim Jong Il
A Coreia Popular no outono é uma palheta de cores, com a vegetação das grandes montanhas preparando-se aos poucos para o inverno. Estas são impressões não apenas da natureza, mas, antes de tudo, de seres humanos – de um povo extraordinário que libertou-se da opressão, venceu uma selvagem agressão e constrói o seu futuro.
Por Carlos Lopes
Nas margens do rio Taedong – essa é a transliteração oficial em português, mas, para nossos ouvidos, a pronúncia em coreano mais se parece com “Dedong” – que atravessa Pyongyang e boa parte do norte da Península da Coreia, viajantes franceses, suecos, alemães, dinamarqueses, espanhóis (havia até um simpático príncipe da casa real de Espanha), italianos, noruegueses, ingleses, e… americanos, sem falar nos chineses e outros cidadãos asiáticos, inclusive japoneses, admiravam os belos monumentos erguidos, detalhada e minuciosamente, pelo povo coreano.
Alguns deles portavam “piercings” e cortes de cabelo pouco ortodoxos, mas eram tratados, sempre, com a mesma gentileza pelos coreanos.
Estávamos no país que a propaganda do establishment americano – repetida até a náusea pela mídia antinacional daqui – chama de país “fechado”, “um dos mais fechados”, ou, mesmo, “o mais fechado” (ou “isolado”) do mundo.
Essa propaganda tem sua lógica própria – a lógica do lobo, um lobo especialmente sanguinário: bloqueiam um país, agridem-no de milhares de formas, tentam trucidá-lo (inclusive através de um genocídio – os EUA admitem que, entre 1950 e 1953, mataram 1 milhão e 500 mil coreanos ao norte do paralelo 38, o que significa, como na cínica frase de Lloyd George, primeiro-ministro inglês durante a I Guerra Mundial, que podemos, pelo menos, duplicar esse número), sabotam-no, boicotam-no, ocupam metade do seu território, passam por cima das eleições e dos acordos internacionais, instalam ogivas contra a parte livre.
Depois disso tudo, segundo a propaganda imperialista, o problema não está no agressor – mas no país agredido, que é “fechado” ou “isolado”.
Nós, aqui no Brasil, já experimentamos, em algum grau, o que eles chamam de “abertura”. Eles gostariam que a Coreia Popular estivesse “aberta” para suas agressões, isto é, que o povo coreano se submetesse a eles. Para isso, realmente, a Coreia Popular está fechada – mas não para os povos do mundo, incluindo o povo norte-americano. Foi o que pensei, enquanto observava os viajantes, não apenas em Pyongyang, mas em Panmunjon e várias outras localidades coreanas. Numa cooperativa agrícola, vi a mensagem, entusiasmada, deixada pelo príncipe espanhol.
A Coreia Popular, realmente, sabe se defender. Na agressão de 1950-1953, apesar da invasão e do bombardeio bárbaro, algo que nem os nazistas fizeram, as hordas norte-americanas, derrotadas, tiveram que recuar, deixando atrás de si 20 km em relação à linha de demarcação anterior. Por esta razão, o limite com a parte ocupada, a Coreia do Sul, localiza-se hoje além do famoso paralelo 38.
Se a Coreia não é ainda o país mais aberto no mundo (será que algum país precisa ser?), isso se deve, exclusivamente, às dificuldades impostas pelo imperialismo dos EUA, e seus satélites. Mas elas não são capazes de impedir o crescente afluxo de cidadãos de todas as partes do mundo.
Realmente, leitor, vale a pena.
A NOITE
Durante vários dias, eu e minha mulher, Sandra, percorremos aquele belo país. Lá pelas tantas, lembrei-me da entrevista de uma repórter, norte-americana de pais chineses (irmã de outra, presa por espionagem ao entrar ilegalmente na Coreia, e generosamente deportada para os EUA, após as desculpas de Clinton), no intragável programa da senhorita Oprah Winfrey – um exemplo escandaloso de como o establishment usa as etnias e parcelas da população que oprime, sobretudo os negros e as mulheres.
Dizia a repórter que os viajantes só se movem na Coreia Popular acompanhados e vigiados por um “guia”, que mostra apenas o que o governo coreano quer que seja mostrado – ao que a insopitável Oprah acrescentou um “oooh…!”, à guisa de comentário.
Com todos os obstáculos do idioma (minimizados, é verdade, pela educação e cultura dos coreanos – muitos conhecem as línguas ocidentais), eu e Sandra, quando nos deu na telha, andamos sozinhos por Pyongyang e outras localidades, sem que ninguém nos aporrinhasse, como se estivéssemos em São Paulo, Rio ou Fortaleza, com a diferença de que os passeios, inclusive noturnos, foram muito mais seguros. Na Coreia Popular, os assaltos não existem – e não é por falta de armas nas mãos da população.
Alguns podem achar que estamos descrevendo uma utopia – mas, não, leitores, é apenas a verdade, e isso não quer dizer que o país não enfrente dificuldades. Enfrenta, sim, e está fazendo o que pode para vencê-las. Mas a desumanização brutal que ainda impera em nossa sociedade – e, mais ainda, em outras ainda dominadas pelo imperialismo – não existe. Lá, o homem, ao contrário da frase do romano Plauto (“homo homini lupus”), tão citada por Hobbes e todos os reacionários que vieram depois, não é o lobo do homem – esse papel está, muito justamente, reservado para a casta financeira dominante nos EUA, que não é composta exatamente pelo que se entende por seres humanos, como mais uma vez se comprovou na Líbia.
IMPRESSÕES
Tive dúvidas de por onde seria melhor começar este relato. As pessoas escrevem para serem lidas, até mesmo os mais obtusos literatos que vivem pregando a “arte pela arte”. Como dar ao leitor uma visão, a mais realista possível, de uma viagem? Depende da viagem. Por pouco não adotei Graciliano Ramos, e o extraordinário livro sobre sua visita aos países socialistas (“Viagem”), como modelo. Mas isso não seria bom, nem justo – os tempos são outros, os países e as experiências, também, e eu não sou Graciliano.
Talvez seja melhor iniciar pelo mais singelo – mas nem por isso menos significativo: pelo fim, pois o leitor não estava lá para descobrir a Coreia, como os viajantes fizeram, a cada passo.
Na véspera de nossa volta, uma jornalista da “Voz da Coreia”, o maior jornal do país, sabendo que sou diretor de redação da Hora do Povo, perguntou-me sobre o que mais me impressionara nos dias que lá passamos.
Respondi: “o olhar das crianças”.
Ela, muito jovem – portanto, sem conhecer pessoalmente as agruras da ocupação japonesa ou da agressão norte-americana -, não entendeu.
No entanto, o diplomata que nos servia de tradutor, com longos anos na África, Portugal, Espanha, e uma rápida estada no Brasil (conhecia a música popular brasileira, em amplitude, mais do que eu, e quase tanto quanto Sandra), entendeu na hora, assentindo. Mas deixou que a jornalista continuasse, sem fazer comentários.
“Mas o que você viu no olhar das nossas crianças?”
Expliquei que as crianças sob fome, ou ameaça de fome, na miséria, ou sob agressão – citei algumas fotos da guerra do Vietnã que nós, aqui, já publicamos – têm um olhar de medo e insegurança. Um olhar de dor. Elas, em maior ou menor grau, temem o futuro, que às vezes é apenas o dia seguinte, às vezes apenas a hora do almoço.
Na Coreia Popular, eu vira crianças com olhar confiante, como se o futuro fosse delas, aquele olhar seguro, só possível quando as necessidades, pelo menos as mais elementares, estão atendidas, e a sociedade oferece a elas a perspectiva, sem lugar para dúvidas, de se desenvolver como seres humanos – o que é o modo humano de existir.
Não me refiro apenas às necessidades materiais, mas também às necessidades (vale dizer: “carências”) psicológicas que só uma saudável vida coletiva, o que inclui a vida familiar, é capaz de atender.
Presenciamos, várias vezes, o cuidado dos coreanos com suas crianças. No país, já sabíamos, essa não é uma missão circunscrita aos pais. Mas não tínhamos visto ainda como isso é profundo nos coreanos.
Um dia, o motorista do automóvel em que nos deslocávamos teve um problema: sua filha ficara doente. Foi imediatamente dispensado para ficar com a filha, e substituído, naquele dia, por um colega. No dia seguinte, nosso tradutor, funcionário graduado do Ministério das Relações Exteriores, formado por algumas das melhores universidades, não somente da Coreia, mas, inclusive, do Ocidente, disse que iria deixar-nos por algumas horas: soubera que a filha do motorista, já melhor de saúde, manifestara vontade de chupar laranjas – e lá foi o diplomata, atrás de laranjas para a filha do motorista.
Pode ser que o leitor já tenha presenciado algum pequeno incidente semelhante a este no Brasil. Há muita gente sensível e generosa entre nós. Porém, terá sigo algo excepcional e admirável. O extraordinário aqui foi a naturalidade como tudo ocorreu – acontecimentos desse tipo não são excepcionais na Coreia Popular; e ninguém, exceto nós, achou que era digno de admiração.
Andando pelo Jardim Zoológico de Pyongyang, onde há tigres brancos, cisnes negros e outros espécimens no mínimo curiosos, vimos o orgulho com que a maior parte das crianças – as que têm idade para tal – exibiam, no pescoço, o lenço vermelho dos pioneiros. Mais ainda, era visível o carinho que os pais demonstravam pelos filhos.
Algum teimoso leitor poderá dizer: mas aqui, na maioria, os pais também demonstram carinho pelos filhos. É verdade, graças aos céus e ao povo brasileiro. Porém, como é difícil, às vezes, depois de trabalhar oito ou mais horas, aguentando patrões (e, o que é pior, prepostos de patrões), com a cabeça cheia dos problemas que nos coloca a própria sobrevivência da família – para não falar da jornada, muitas vezes dupla, das mães -, ter paciência e compreensão com os filhos!
Quantas vezes, leitor, isso não exigiu esforço – e não pequeno – da sua parte? Nem estamos nos referindo aos problemas das crianças – embora eles, também, existam – mas apenas a compreender, como é exigido dos pais, a sua condição de crianças. A situação de vida e trabalho que, via de regra, temos no Brasil, não torna fácil a compreensão dos filhos. Quantos de nós já perdemos, um dia ou outro, a paciência com os filhos, sem que eles tenham feito algo além de ser crianças? E, como consequência, quantos de nós, somente depois de anos, às vezes décadas, depois de adultos, é que conseguimos entender os problemas dos nossos pais, para não falar daqueles que nunca o conseguem?
Problemas assim devem, sem dúvida, ainda existir num país socialista, como a Coreia. Mas o grau em que ocorrem parece muito menor do que aqui – a julgar pelo modo como os pais tratavam os filhos no Zoológico, ou no Parque de Diversões de Pyongyang, ou no espetacular Circo que as forças armadas mantêm para o lazer da população.
O leitor teimoso poderá, ainda, replicar: mas isso foi em público. Como vocês estão certos de que na vida puramente familiar as coisas são assim?
Há, pelo menos, um poderoso indicativo disto: o modo livre, espontâneo, desembaraçado, e educado, como as crianças se comportam. O leitor sabe do que estamos falando – um adulto pode simular um comportamento em público (embora, no caso, estamos falando de milhares de pessoas) que não corresponde ao seu comportamento em particular. Mas, as crianças, quando tentam fazê-lo, só revelam o que a simulação não deveria revelar.
Toda a questão está em que as crianças, na Coreia Popular, não têm apenas a vida familiar como forma de socialização. Por isso, a rigor, não cabe falar, como fizemos acima, em “vida puramente familiar”. Até porque este “puramente” também não existe em nossa sociedade – ou em qualquer sociedade -, como sabe qualquer um que tenha uma televisão em casa.
Milhares de pensadores de todas as épocas, incluindo São Paulo, o nosso Ruy Barbosa, e, dizem, Stalin, afirmaram que “a família é a celula mater da sociedade”. Mas, falar em “célula mater” significa, ao mesmo tempo, dizer que existem outras células além da primeira. Quanto mais o indivíduo se relaciona positivamente com o conjunto da sociedade, mais “socializado”, isto é, civilizado, ele é. E quanto mais “privatizada”, isto é, individualista, a sociedade seja, menos possibilidades existem de algum relacionamento positivo – aliás, como sabemos pelo final da sociedade escravagista e da sociedade feudal, há momentos em que o único relacionamento saudável com uma sociedade é negativo: é ser contra ela, para transformá-la em outra. Estes são, em geral, os períodos mais angustiantes da História – e também aqueles em que pode se abrir uma nova época para o ser humano.
Na Coreia, essa nova época, apesar de todas as dificuldades acarretadas por um cerco que somente não é completo em virtude da vizinhança e da hoje longa amizade coreano-chinesa, já chegou. Portanto, é natural que o comportamento das pessoas, em especial o relacionamento entre pais e filhos, demande muito menos esforços, seja bem mais livre, do que na nossa sociedade. Em poucas palavras, o relacionamento entre pais e filhos exige menos esforço onde a sociedade está a seu favor, e não contra, onde a sociedade facilita esse relacionamento, inclusive através de instituições que estão além da família – o que não se pode dizer, por exemplo, da TV no Brasil, em geral um veículo de infâmias antissociais sobre as crianças.
O PARQUE
Depois de um dia repleto de atividades, um amigo coreano, fluente em castelhano, mas não em português, sugeriu que fôssemos, após o jantar, ao “parque de diversificação”. Pensei que fosse alguma exposição econômica. Estávamos cansados – mais de 11 horas de voo entre São Paulo e Paris, mais 11 de Paris até Pequim, e mais uma hora entre Pequim e Pyongyang, mais os problemas do fuso horário, não são brincadeira para quem já passou dos 50 anos, para falar modestamente (no meu caso, sem modéstia, isso quer dizer que falta pouco para os 60…).
Ainda bem que, apesar do cansaço, aceitamos a sugestão do nosso amigo. Ele, ao tentar falar o português, cometera um pequeno e compreensível equívoco. Tratava-se do Parque de Diversões de Pyongyang.
A construção do parque foi uma ideia do general Kim Zong Un, vice-presidente da Comissão Nacional de Defesa, aprovada pelo presidente desta instituição, e secretário-geral do Partido do Trabalho da Coreia, Kim Zong Il, chamado pelos coreanos “o grande dirigente”. O general Kim Zong Un também dirigiu pessoalmente os trabalhos de edificação do Parque.
É inevitável, para um brasileiro, que a toda hora ocorressem comparações com nossa vida aqui, em nosso país. Meu pai era um operário que durante 40 anos trabalhou em estaleiros, estradas ou em fábricas, mas, nos fins de semana, quando não cozinhava em casa para livrar minha mãe dessa tarefa, fazia questão de sair com a família. Íamos à Quinta da Boa Vista, onde fica o Zoológico do Rio, ou, antes de 1964, quando a situação era muito menos apertada, íamos almoçar com os vizinhos num restaurante alemão que ficava na Rio-Petrópolis. Uma vez até entramos na Hípica, clube granfino que abrira as portas ao público para uma “festa da uva”.
Porém, durante todo o tempo em que trabalhou, jamais meu pai conseguiu sair, com a família ou sozinho, no meio da semana. No dia seguinte, às 5 horas da manhã, em certas épocas até mais cedo, ele tinha que tomar o seu café e ir ao trabalho – do qual chegava sempre bem extenuado.
No entanto, no Parque de Diversões de Pyongyang, numa noite de quinta-feira, havia seis ou sete mil crianças acompanhadas pelos pais – que tinham, todos, o ar inconfundível de trabalhadores. Para brasileiros comuns, como era o nosso caso, seria quase incrível, se não estivéssemos vendo (quase que escrevo “vendo com nossos olhos”, mas é difícil que o leitor presuma que estávamos vendo com outros órgãos…).
O general Kim Zong Un tinha razão ao se preocupar com a diversão do povo. Um governo que não se preocupa com isso, despreza aquilo que Getúlio chamou “o trabalho nacional”, com seu fundamental e decisivo elemento, os homens, as mulheres, e seus filhos.
Não representei muito bem as cores brasileiras no Parque de Diversões. Existe lá uma “punching ball”, aquela bola que os boxeadores esmurram, para testar a potência do soco. Dei um murro com a direita, justamente a mão do braço afetado pela insidiosa Lesão por Esforços Repetitivos (LER). Resultado: meu soco, segundo o medidor, chegou apenas a 40 quilos. Um vexame. O amigo que nos levou ao Parque conseguiu chegar, num único soco, a mais de 200 quilos. Além disso, venceu minha mulher no tiro-ao-alvo eletrônico, matando todos os pombos virtuais que apareceram na tela, vindos dos mais insuspeitados lugares. Também, com o treinamento que os coreanos fazem para defender o país dos americanos, essas coisas devem ser fichinha…
Fonte: Jornal Hora do Povo
terça-feira, 3 de abril de 2012
Líbano e o Brasil irmanados: partido comunista envia saudação
Companheiras e companheiros
Camaradas e companheiros da Luta pela Justiça Social
Do País do cedro, país da luta, país da resistência, país dos mártires.
Do Líbano e seu povo, (amante do Brasil), do Comitê Central do Partido Comunista Libanês, do secretário geral Dr. Khaled Haddadeh e sua vice Drª Marie Nassif Debes, trago-lhes as saudações.
Saúdo-lhes, bravos camaradas, pelos 90 anos da fundação do partido marxista-leninista, o Partido Comunista do Brasil, incansável lutador pelo ser humano e pela justiça social.
As lutas se igualam e se diferenciam; se igualam pelos objetivos, e se diferenciam pelos modos, formas e localidades.
Nós no Líbano travamos lutas internas e externas. Nossas lutas internas contra a política religiosa “onde cada seita tem os seus candidatos e seus representantes no parlamento e em todos os setores do governo”, lutamos por direitos políticos iguais, por um Líbano de uma zona eleitoral única, onde os comunistas e socialistas possam se candidatar pelo Partido e não por uma representatividade religiosa.
Lutamos contra os príncipes da guerra e os homens de poder e do capital, esses príncipes que alimentam a segregação religiosa para impedir a luta das classes; esses príncipes apoiados pelos imperialistas para manter o Líbano em guerras constantes.
A nossa luta externa contra os imperialistas estadunidenses e seus aliados que interferem no nosso país através do câncer que plantaram no seio da nação árabe e que se chama Israel.
Essa Luta, caros camaradas, que tem custado ao Líbano e seu povo muitas vidas, vidas de jovens que morreram e morrem no sul do Líbano, “O PARTIDO COMUNISTA LIBANÊS DESDE OS ANOS 40 VEM LUTANDO CONTRA A OCUPAÇÃO ISRAELENSE DA PALESTINA”, e graças à bravura da nossa resistência, aplicamos uma derrota histórica ao exército inimigo em 2006, exército este que era considerado invencível.
Afirmamos todos os dias o compromisso de não cessar esta luta até a vitoria final. Onde teremos um Líbano livre e soberano, democrático e com justiça social.
O imperialismo estadunidense e seus aliados tentam abortar a luta dos povos em todos os cantos e especialmente no Oriente Médio, na África e América Latina. No Oriente Médio, ora num país ora noutro.
Chamaram este movimento de primavera árabe, e ela é, caros camaradas, um outono, aliás um inverno rigoroso. Destruíram o Iraque e saquearam sua riqueza e mesmo assim saíram dele derrotados; destruíram a Líbia e a dividiram, extorquiram sua soberania e sua riqueza; investiram na vitória dos salafistas na Tunísia e no Egito; transferiram os
depósitos de armas líbias para o Sul da Turquia para abastecer a oposição externa da Síria e treiná-la contra o único país árabe que diz não à Israel e seus planos no Médio Oriente, e com isso desviam a atenção sobre os massacres que comentem contra o povo palestino na Gaza e em toda Palestina.
Desta forma, e unidos aos irmãos da luta, na Palestina e todos os países árabes e também em Porto Rico e outros países, especialmente os latino-americanos, unidos na luta para derrotar o imperialismo estadunidense e seus aliados e cortar os seus tentáculos e alcançar a vitória final contra a discriminação e opressão e pela igualdade e justiça, onde teremos pátrias livres e povo feliz.
Nas comemorações dos 90 anos da fundação do PCdoB, resistente como o cedro do Líbano, resistente como a araucária brasileira, renovamos aqui, nossos compromissos pela luta e renovamos nossas saudações ao Partido Comunista do Brasil, ao povo brasileiro e ao povo da América Latina.
Viva o Brasil!
Viva a luta dos povos!
Viva o Líbano e o Brasil irmanados para sempre!
Kháled Fayez Mahassen
Partido Comunista Libanês – PCL
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